Manchete | Jeozadaque | 28/09/2009 14h57

Em um dos meses que o teatro é comemorado, Anderson Lima fala sobre como é trabalhar em MS

Compartilhe:

entrevistaAtor, palhaço, iluminador cênico, educador e produtor cultural. Essas são as várias funções Anderson Lima na atividade teatral sul-mato-grossense. No último dia 19 de setembro foi comemorado o Dia do Teatro, uma das muitas datas em que essa arte é lembrada. Já no dia 27 de março tem o Dia Mundial de Teatro. Mas é como dizem... todo dia é dia... Ainda mais quando se trata de teatro, palavra que vem do verbo grego "theastai", significando ver, contemplar e olhar.  Por isso, sempre vale a pena prestigiar. Este ano, Anderson foi um dos três autores selecionados pela Fundação Nacional de Artes (Funarte), no Prêmio Myriam Muniz. Além de ter organizado a terceira edição do Festival Nacional de Treatro de Campo Grande (Festcamp). Anderson faz parte do Grupo Teatral Flor e Espinho e veio para Mato Grosso do Sul cursar  Artes Visuais, na Universidade Federal de MS (UFMS). Ele, que nasceu no Paraná, mais precisamente em Goio-Êre, em que brinca dizendo "quase ninguém conhece, mas ainda existe", está hoje com 30 anos.  Sonhos?  Bom, ele explica que "são vários, mas eu tenho andando com os pés nos chão ultimamente". Segundo Anderson, este ano ele viajou "bastante o que fez com que eu atrasasse a estreia de um trabalho novo, acho que o meu sonho mais atual é conseguir me dedicar estes últimos meses neste trabalho, estreá-lo e rodar com ele pelo País".  Conheça mais do artista nesta entrevista. Ele que acaba de chegar do Rio de Janeiro, onde esteve levando um pouco do jeito sul-mato-grossense de fazer arte. Ensaio Geral: O que é teatro para você? Anderson Lima: Para mim teatro é trabalho, é com este ofício que eu ganho minha vida. Um trabalho que tem seus prazeres e suas dores, acho que todo tipo de trabalho é assim. Não acredito que eu seja um privilegiado por trabalhar com arte e cultura, tão pouco o contrário. Acredito que estou na mesma condição daquelas pessoas que fazem o que gosta, seja o trabalho que for.   EG: Como você iniciou a caminhada na área cultural? AL: Meu interesse por cultura vem desde os tempos de criança. Eu sempre fui um admirador das manifestações culturais populares, sobretudo as folias de reis. Acho que as coisas foram acontecendo como tinha que ser, entrei em contato com o teatro ainda na escola, onde eu desenhava os professores e às vezes até me metia em algumas confusões por causa disso. Mas isso eu não posso contar não (risos). Fui tomando gosto, indo atrás de oficinas, estando sempre em contato com artistas, desenhando, discutindo cinema, artes plásticas e teatro. Aí decidi por prestar vestibular em Artes Visuais, passei e hoje continuo fazendo as mesmas coisas que fazia na minha adolescência, só que agora eu tenho que pagar as minhas contas (risos). EG: Como é fazer teatro em MS? Aqui tem-se reconhecimento? AL: Eu acredito que as coisas irão melhorar por aqui. Eu tenho contato com grupos de vários estados do País e vejo que as nossas lamentações são praticamente as mesmas, mas eu acho que aqui temos algumas situações que nos favorecem. Temos facilidade em arrumar salas pra ensaio, matérias em jornais, as pauta dos teatros são bem flexíveis, ente outras coisas que em alguns estados é bem mais difícil. Acho que um dos maiores problemas do nosso teatro é a falta de grupos, nossa prática é a de um teatro de elenco onde os atores estão em vários trabalhos. Os grupos desenvolvem pesquisas, têm as suas linguagens definidas, ao longo do tempo o trabalho vai melhorando, o que favorece o reconhecimento do público. Acredito que com a chegada do curso de artes cênicas esse quadro vai mudar favoravelmente.   EG: O que falta aos artistas de teatro que estão fora dos grandes centros de produção cultural? AL: Uma boa produção que só é possível com uma boa formação, não necessariamente acadêmica. Temos um exemplo claro disso na Paraíba, um estado longe dos grandes centros, mas que tem um espetáculo que marcou um traçado no teatro contemporâneo, o “Vau da Sarapalha” do grupo Piloim, dirigido por Luiz Carlos Vasconcelos. Este espetáculo é vencedor de prêmios em muitos países. Em Cuiabá tem o grupo Fúria que é bastante conhecido pelo País e também é de um lugar distante.  EG: Qual apoio que o teatro recebe do poder público e da iniciativa privada? É suficiente? AL: Temos as leis de incentivo à cultura que nos dão suporte. Em nossa região o poder privado apoia muito pouco, se é que apoia. A Lei Rouanet não aconteceu para o Estado de MS, por sorte ela está passando por uma reformulação que abre novas perspectivas. Eu acho que os recursos disponíveis para a cultura, e sobretudo para o teatro é muito pouco. Mas infelizmente temos uma herança de resultados muito ruins na aplicabilidade da verba proveniente destes fundos, são muito poucos os trabalhos financiados por estes recursos que estão circulando, e isso enfraquece muito o movimento. Não podemos ficar refém dos recursos públicos, no entanto, temos que garantir e lutar para ampliá-los, mostrando um bom resultado, realizando trabalhos que ganhem o público, que nos levem aos muitos festivais que tem pelo País afora, quando isso começar acontecer as coisas irão mudar com certeza. Teremos mais credibilidade para reivindicar um maior orçamento e, particularmente, eu me sentirei mais a vontade pra lutar por isso também.   EG: E o público, como levar mais pessoas aos espetáculos? Temos cultura de reservar tempo e dinheiro também para as apresentações locais? AL: Temos que ser insistentes, colocar espetáculos em cartaz com mais frequência, para ir ganhando o público. É certo que a grande maioria das pessoas que vão ao teatro por aqui, ainda vai por causa do elenco, atrás dos globais, sem se importar muito com o conteúdo dos espetáculos que na grande maioria são comercias. No entanto, temos um público crescente procurando espetáculos mais artísticos, com atores de teatro mesmo. Acho que o Festcamp tem contribuído muito pra isso, o público cresce consideravelmente.    Ensaio Geral: Qual avaliação final do Festcamp deste ano? E previsão para o próximo ano? Anderson Lima: Ocorreu tudo bem, os objetivos foram superados, o público compareceu, mesmo num momento difícil devido à gripe suína. Os espetáculo foram de alto nível. Tivemos a participação do poder público, que a cada anos vem consolidando o apoio ao festival. O Américo Calheiros que desde o início nos ofereceu apoio, mesmo antes de nós o procurarmos, e o Marcelo Bones da Funarte, estiveram numa mesa onde afirmaram a importância deste festival para a região. O que nos deixa muito otimista para a próxima edição,  que já conta com o apoio da Caixa Cultural e provavelmente será no mês de agosto novamente. Foto: Arquivo pessoal de Anderson Lima Por: Rosália Silva

VEJA MAIS
Compartilhe:

PARCEIROS