Em seu novo livro, Gilberto Luiz Alves é direto e sem rodeios: “Estigmatizaram o pecuarista nhecolandense como um empresário atrasado, avesso ao progresso e à inovação no âmbito da produção”

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Literatura | Luiz Taques | 16/11/2022 09h19

Resenha: Livro aborda o preconceito aos fazendeiros do Pantanal

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Por Luiz Taques

Já faz um tempinho que Gilberto Luiz Alves não mora mais em Corumbá – no entanto, parece que a cidade fronteiriça o adotou e agora habita nele. Tanto que Alves fala igual à boa gente de lá: voz sem cansaço, sorriso acolhedor no rosto, sempre a olhar nos olhos do seu interlocutor.

Paulista de Mirassol, estudioso sublime, doutor em Filosofia e em História da Educação pela Unicamp, Gilberto Luiz Alves acaba de publicar um novo livro: “Pantanal da Nhecolândia – Pecuária e Modernização Tecnológica”.

O seu texto é direto, sem rodeios: “Estigmatizaram o pecuarista nhecolandense como um empresário atrasado, avesso ao progresso e à inovação no âmbito da produção.”

Certamente a obra traz muito aprendizado da vida pantaneira que o autor adquiriu em seu luminoso período de professor da UEMT (depois UFMS) em Corumbá – posteriormente, ele seria transferido para Campo Grande, onde viria se aposentar, fixar residência, e criar, em 2013, um instituto de pesquisas e produções acadêmicas que levaria o seu nome. A obra “Pantanal da Nhecolândia” foi editada justamente pelo Instituto Gilberto Luiz Alves em parceria com a Editora Entrelinhas, de Cuiabá, MT.
O livro fala da chegada dos pioneiros à longínqua localidade compreendida entre os rios Taquari, Paraguai e Negro. Foi após a Guerra do Paraguai (1864-1870). Gilberto Alves rememora a história de Nheco: Joaquim Eugênio Gomes da Silva. Aquela vasta área depois seria batizada de Nhecolândia em homenagem a ele.

Mas as experiências de outras lidas no campo também surgem com o avançar da narrativa – afinal, todos os habitantes daquela zona rural de Corumbá tocam os seus dias em harmonia com o comportamento das águas.

De broncos, os pecuaristas não tinham nada. Pois, com desfastio, vibraram com a chegada do automóvel, das vacinas e de matrizes para o melhoramento genético do rebanho bovino.

Para estudar, enviaram os filhos aos grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, principalmente. De lá, os jovens fazendeirinhos retornavam com canudo de médico. Ou de advogado. O mais célebre deles, Manoel de Barros, chegou com o diploma de bacharel de Direito numa das mãos e, na outra, um volume de poesia. Aliás, na epígrafe do livro de Alves, há este poema de Barros: “O homem havia sido posto ali/ nos inícios para campear e hortar./ Porém só pensava em lombo de cavalo./ De forma que só campeava e não hortava.”

Aos filhos dos peões, os pecuaristas implantavam, nas fazendas, escola fixa ou itinerante; ocasionalmente, levavam clínico-geral e dentista.

Gilberto Alves deixa explícito: “O retardamento na incorporação de inovações, quando ocorreu, foi devido, frise-se, à estimativa de lucro prometido e não à resistência ou à ignorância do criador.”

Para o autor, o epíteto de “atrasado” foi impingido indiscriminadamente aos pecuaristas e é oriundo de disputas políticas mesquinhas “travadas em fins do século XIX e início do século XX entre os grandes comerciantes corumbaenses e os rudes pecuaristas que ocuparam e desbravaram o distrito de Nhecolândia”.

Em seu trabalho, Gilberto Alves lembra que a Nhecolândia tornou-se uma das mais importantes áreas de criação de gado do Pantanal mato-grossense (mais tarde sul-mato-grossense).

Lançada na metade deste ano, a primeira edição do livro do professor aposentado da UFMS tem tiragem de apenas 150 exemplares – numerados de 001 a 150, tiveram como destino a Sociedade de Bibliófilos do Instituto Cultural Gilberto Luiz Alves; outros 20 exemplares rodados, numerados de I a XX, contemplaram colaboradores mais próximos.

As ilustrações das capas e do miolo de “Pantanal da Nhecolândia – Pecuária e Modernização Tecnológica” são de Marlene Mourão, também conhecida artisticamente por Peninha. Escritora, pedagoga e pintora, ela nasceu em Coxim, mas mora em Corumbá.

Peninha é autora de um livro lançado em 1976, “Azul dentro do banheiro”, que jovens e adultos deveriam ler, para começarem a amadurecer intelectualmente.

Obra lúdica: educa e diverte. E tão necessária à nossa formação que, para tê-la por perto, na contracapa, Peninha nos sugere com o seu aconchegante humor: “Não empreste este livro – é imprestável – compre um pro seu amigo.”

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