Manoel Câmara Rasslan
Manoel Câmara Rasslan
Manoel Câmara Rasslan é natural de Dourados e chegou em Campo Grande quando tinha apenas quinze anos. É regente do Coral da UFMS e nos contou um pouco mais sobre esse trabalho. Confira
Ensaio Geral - Qual a sua formação?
Manoel - Minha formação musical eu comecei em casa,depois da vivência em família acabei fazendo conservatório, aquela formação tradicional - depois disso eu fiz curso superior no Conservatório Brasileiro de Música, no Rio de Janeiro. Depois disso fiz Especialização em Música Brasileira, em Cuiabá, na Universidade Federal. Fiz também um aperfeiçoamento com a metodologia de educação musical Willems em Lyon, na França, pelo período de um ano. E por último, fiz mestrado e doutorado em Educação na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. No Mestrado, meu trabalho de pesquisa foi sobre o Movimento Coral da UFMS durante o período de 1977 até 2005 e no Doutorado, trabalhei com painéis de regência do coral de 1981 a 1989 na perspectiva destes painéis como uma política cultural do governo que foi se transformando em política curricular.
Ensaio Geral - Desde quando você é o regente do Coral da UFMS e como surgiu esse trabalho?
Manoel - Na Universidade existiram vários trabalhos neste âmbito - de 1977 até 1979 o regente foi Peter Ens, que acabou contratado pela UFMT e lá ele montou a estrutura do coral da UFMT da forma que existe até hoje, com professores contratados, estagiários, regentes, preparador vocal e mais uma série de coisas. Depois dele veio o Maestro Armando Martinele, que era funcionário do CCBS e que trabalhou com o coro de 1980 até 1984. Em 1986, o Maestro Vitor Diniz trabalhou com o projeto Madrigal na Universidade e com um projeto grande aqui que chama "Arsis", um projeto de impulso e elevação musical que o regente dá. Ele disponibilizou aulas de instrumentos, cursos musicais intensivos e até eventualmente de regência. Desde 1988 eu trabalhava com o Diniz, tinha me deslocado para esse setor na PREAE para trabalhar com ele e quando ele saiu da Universidade, um grupo de alunos de Letras acabou me procurando e com esse grupo eu comecei o trabalho no início de 1989 e aí foi indo, não parou mais. Em 2005, o Coral passou a ser não somente um grupo mas também um programa de extensão chamado Movimento Coral da UFMS - que contém Coro Escola 1, o Coro Escola 2, que são para iniciantes, o Coro de Câmara da UFMS e o Madrigal da UFMS. Agora em outubro teremos um Encontro de Coros do Movimento Coral da UFMS - esse encontro convida corais da cidade e até de outras cidades do Estado e reúne em um grande concerto no Teatro Glauce Rocha, o próximo será no dia 30 e 31 de Outubro, com 5 coros cada dia. Ano passado a gente fez um encontro de Coros com o Coral da UFMS e o Coral da UFMS, um encontro muito bonito.
Ensaio Geral - Quais são outros projetos em vista?
Manoel - Todo ano nós temos projetos. Este ano a perspectiva deste Encontro em Outubro é a reunião de vários Coros do Estado do Mato Grosso do Sul. Além disso temos o 8 em ponto, que é pras pessoas que estão cansadas de ir ao teatro e ver gente conversando e falando no celular e perdendo completamente o contato com a música. Nós resolvemos fazer uma série na própria sala do Coral, que fica no portão 19 do Morenão, onde cabe 60 pessoas e todas com os celulares desligados e atentas à música que acontece aqui na apresentação, e que podem, ao final, ter uma troca de informações com o(s) músico(s) convidado(s). Esse projeto acontece duas vezes por mês, já tivemos o Coral do Tribunal de Justiça, o Coral do IFMS e teremos outros como O Coro Psiu, que é um projeto musical infanto-juvenil, entre muitos outros. Esse projeto é patrocinado pelo banco SICREDI, que tem nos ajudado muito e é um patrocínio muito bem-vindo.
Ensaio Geral - Em relação à patrocínio de entidades governamentais, como a Fundação da Cultura, como é a relação do Coral?
Manoel - Temos um projeto para o FMIC, que levantaremos tudo o que foi gravado pelo Coral da UFMS desde que estou à frente dele. Esse ano faz 25 anos da minha regência frente ao Coral. Aí faremos esse registro em conjunto com alguns registros anteriores à essa época e montaremos esse CD, se for aprovado.
Ensaio Geral - Para entrar no Coral, quais são os critérios exigidos?
Manoel - Nós temos um trabalho que faz o seguinte: a primeira coisa que uma pessoa faz para entrar é ingressar em um Coro Escola, que aceita todos, afinados ou desafinados e então a pessoa segue um aprendizado em relação a todos os elementos que compõem a música que pretendemos fazer aqui, uma música que pode ser erudita, popular, folclórica e também discutindo o que é a origem dessa música e como ela se localiza no universo da cultura. Após este Coro, que também faz parte do Coral da UFMS, se quiser ir para outro Coro como o Coro de Câmera, tem que esperar abrir as inscrições e ir para a seleção. Todos são muito bem vindos, é um coral da UFMS mas não um coral de universitários especificamente, é aberto à comunidade. É um serviço que a Universidade presta no sentido de apresentar pessoas e músicas.
Ensaio Geral - Como você encara a música no meio pedagógico e como você se sente em relação ao que chamam de "deteriorização" do gosto popular pela música em si?
Manoel: É complicada essa discussão pois entra em um âmbito muito maior. A música faz parte de uma construção social também, todas as músicas tem uma função é às vezes faz parte de expressões de determinados grupos em determinadas épocas que são legítimas porque são de grupos que estão incluidos na sociedade. A minha preocupação não é discutir qual música é "boa" e qual música é "ruim", a minha preocupação é, através do Coro, oferecer aos cantores do Coral da UFMS o necessário para a ampliação da escuta desses cantores e torna-las mais crítica, e então, fomentar uma música mais elaborada dentro deste espaço. A música não é só um recurso para aprendizado, é também. Existe a música para "criar bons hábitos", existe isso sim, na pedagogia as professoras usam isso também como recurso para diversos fins, mas é importante ressaltar que a música não é só isso, ela é uma linguagem, ela expressa valores, sentimentos, entre outras coisas. Tem que ter uma responsabilidade sobre esse fazer musical e essa expressão.
Ensaio Geral - Como regente, quais são seus desafios e gratificações com o Coral?
Manoel - Trabalhar é desafiante por natureza (risos). O maior desafio que passamos foi atrair as pessoas para o Coro, construirem o canto neste espaço oferecido e compreenderem isso com seriedade. Mas isso foi há muito tempo, hoje em dia é diferente. Por exemplo, o Coro tem ensaios aos domingos além dos ensaios em diasde semana e eu nunca preciso ficar lembrando eles, não é necessário. Eles vem porque querem fazer música. O maior prazer, depois de 25 anos, é observar que muitos cantores que passaram pelo Coral acrescentaram à suas vidas coisas muito interessantes e outros, acabaram até fazendo a música como sua profissão, onde temos muitos exemplos. Pessoas que chegaram aqui sem nenhum conhecimento musical aqui, novos, com 15 anos e acabaram chegando à um nível profissional. Isso é uma coisa que me encanta muito.
Os interessados no projeto podem conferir um pouco mais sobre nos sites http://www.coral.ufms.br/ e http://movimentocoraldaufms.blogspot.com.br/
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