Outros | Da Redação/Com Dourados Agora | 20/06/2013 15h30

Investimento cultural é cortado pela metade em Dourados

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Já diziam os Titãs: “Bebida é água! Comida é pasto! Você tem sede de quê? Você tem fome de quê? A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte...”. Em 1987 o trio Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sergio Brito compunham uma das ‘músicas hino’ dos anos 80. Passados 26 anos a mensagem continua viva e mais atual do que nunca.


Aos artistas da cidade, bananas! Quem exclama é o poeta douradense Emmanuel Marinho, artista renomado no país, contudo esquecido em sua terra natal. “...Nenhuma administração contribuiu com o Festival Internacional de Teatro de Dourados, que projeta nossa cidade no país e no mundo, da forma mais positiva que é a integração dos povos pela cultura”.


O desabafo do poeta é sobre o Fundo de Investimentos à Produção Artística e Cultural de Dourados (FIP), que neste ano de 2013 projetou um investimento de R$ 323.617 em projetos de artistas locais, no entanto só irá conceder R$ 126.089, ou seja, quase R$ 200 mil a menos.


No início deste mês o Diário Oficial do município divulgou a lista dos sete artistas locais contemplados com o FIP, do total de 40 inscritos. O Festival Internacional de Teatro, o maior evento da cidade, ficou de fora.


“Não houve nenhuma justificativa plausível para o nosso projeto ser reprovado. Uma das notificações foi porque preenchemos a data do evento, em uma das páginas do projeto, a caneta.


Outra porque não colocamos que determinada quantia dos ingressos do Festival seria repassado à Prefeitura, no entanto, essa informação já era especificada no edital do FIP e todos os artistas sabiam que parte de ingressos deveriam ser repassados, dessa forma não repetimos no projeto”, explica Gil Esper, coordenador de Cultura da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).


O Festival Internacional de Teatro entra neste ano em sua 5ª edição. O evento promovido pela UFGD conta com a participação de parceiros, sendo reconhecido por apresentar novidades para o público, com apresentações internacionais, nacionais e regionais em diversos pontos da cidade. “Mesmo assim, com menos recursos, o Festival será realizado, contudo não da forma que planejamos”, explica Gil.


Na edição passada foram investidos quase R$ 200 mil no Festival. Todos os anos a Caixa Econômica Federal é parceira do evento e nesta edição patrocinará R$ 50 mil. Com o FIP da Prefeitura a organização do Festival esperava recursos de R$ 30 mil. Para completar o restante da verba, a UFGD aplica recurso próprio e subsidia patrocínio, de menor valor, com outros parceiros.


Os artistas douradenses reclamam da falta de incentivo na cultura local. O próprio poeta Emmanuel Marinho encaminha anualmente à prefeitura o projeto “Um Poeta no Distrito”, apresentação de espetáculo solo em todos os distritos de Dourados, envolvendo os educadores, alunos das escolas públicas e a comunidade local. “Interessante que, desde a criação do Fundo, eu envio o mesmo projeto e é sempre reprovado.


Lamento, porque as escolas municipais sempre solicitam a minha presença, trabalham meus livros e eu gostaria de contribuir com a educação da minha cidade. Perde Dourados, mas eu continuo firme me apresentando pelo país inteiro, respeitado e convidado, pelas prefeituras de outras cidades do Estado e de outras cidades do Brasil”, enfatiza Emmanuel Marinho.


A cobrança de planilhas e de uma série de documentações estaria impedindo artistas locais conseguir recursos públicos, garantidos em lei, para desenvolver e promover a arte e a cultura em Dourados. Em outras cidades, segundo os artistas, a cultura é mais valorizada, facilitando levar arte e cultura ao povo.


A classe artística está se mobilizando para pedir à Secretaria de Cultura do município a abertura de um novo edital para que seja aplicado o restante dos quase R$ 200 mil. No entanto, a mobilização parece que não surtiria efeito.


De acordo com Aristeu Serra Negra, assessor de planejamento da Secretaria de Cultura de Dourados, não é possível abrir um segundo edital. “Se isso acontecesse demoraria muito tempo devido o cumprimento dos trâmites legais”, pontua. Ele afirma que os R$ 323.617 do Fundo de Investimentos à Produção Artística e Cultural de Dourados é um valor apenas estimado para se investir em projetos dos artistas da casa, mas não significa que esse recurso esteja no caixa da Secretaria. “Esse foi um valor máximo estipulado em dezembro passado para ser investido em projetos de artistas locais”, explicou.


Como os sete projetos aprovados terão despesas de apenas R$ 126.089, a Secretaria de Cultura, segundo ele, irá requerer esse valor junto à prefeitura. “A reprovação da maioria dos projetos se deu pela falta de qualidade técnica”, finalizou o assessor de planejamento da Secretaria de Cultura de Dourados.

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