Se o essencial é invisível aos olhos, melhor é confiar no coração para entender uma bela fábula, costurada com doses de antropologia e gotas de indignação pela morte programada dos nossos rios.

A narrativa curta e instigante de Luiz Taques em “Triste Relato de Uma Peixinha Miúda” (editora Maria Petrona, 80 páginas) nos remete não só a Esopo, mas também a Saint-Exupéry, Jean de La Fontaine e ao nosso grande Monteiro Lobato.

A fábula de Taques, publicada neste ano de 2023, se passa no fundo de um rio do Pantanal sul-mato-grossense e perpassa pela floresta degradada e por outros mundos que se conectam por meio de uma narrativa fluida e deliciosamente provocativa.

A peixinha miúda de sua novela tem características humanas, como têm os personagens de Exupéry, Jean de La Fontaine e Lobato e, também, da escritora, editora e ilustradora maringaense Maria Cristina Vieira, que faz sucesso junto às crianças com o seu peixinho Nestor.

O importante nas fábulas atuais, como as de Luiz Taques e de Maria Cristina, é que seus personagens são fortes na sua fraqueza física e estão povoando rios, mares e biomas em geral, para dizer ao mundo que, maniqueísmo à parte, o bem sempre terá lugar de fala no reino da perversidade e da presunção.

Portanto, “Triste Relato de Uma Peixinha Miúda” é um livro que vale muito a pena a gente ler, meditar e, depois, reler.

Porque esta ficção do Taques trata de um tremendo crime ambiental ocorrido nos anos 1980 naquela região pantaneira.

Nascido em Corumbá (MS), Luiz Taques tem em seu currículo outras obras literárias, como “Um Rio, Uma Guerra” (romance, 2016), “Mulas” (novela, 2019) e “Bebinho, Mamadinho e o velório de Bafo de Alho” (contos, 2008).

Messias Mendes é jornalista e escritor. É autor de “Sociologia de Botequim” e de “Orelha de Jegue: memórias de um repórter nordestino”. Baiano do município de Pintadas, mora em Maringá, no Paraná.