Geral | Da redação | 20/01/2017 10h14

Professora usa fofocas para estimular leitura crítica em alunos

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A fofoca faz parte das relações sociais. E observando o interesse dos alunos por notícias relacionadas a fofocas de personalidades, a professora Sonia Gonçalves Batista, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Letras, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), unidade de Campo Grande, levou estes textos para a sala de aula com o objetivo de estimular a leitura crítica dos alunos.

A docente criou uma sequência didática, em sua pesquisa de mestrado, com cinco módulos de atividades que envolvem a fofoca, a coluna social e a notícia, garantindo, dessa forma, uma contribuição mais concreta, como forma de desenvolver, no aluno, a habilidade de leitura crítica. A sequência foi pensada para a disciplina de Língua Portuguesa, das séries finais do Ensino Fundamental II, ou seja, oitavo e nono ano, mas também pode ser adaptada para todos os anos do Ensino Médio.

Na atividade, os alunos foram provocados a construir fofocas a partir de fotos, analisar as opiniões implícitas nas notícias, detectar boatos, trabalhar o diálogo entre gêneros textuais diferentes e analisar notícias dos bastidores da política. Tudo isto com foco na construção de textos escritos, com coerência e coesão, reflexão e análises críticas sobre as notícias apresentadas pela professora.

De acordo com Sonia Batista, que foi orientada pela professora Dr.ª Aline Saddi Chaves, é necessário partir do princípio de que a interação professor-aluno é pautada por uma busca constante de reconhecimento e análise crítica dos diversos gêneros discursivos existentes na sociedade.

“O anseio em buscar alternativas para a formação de leitores críticos surge a partir de nossa vivência em sala de aula, por muitas vezes presenciarmos a inércia do aluno frente às leituras solicitadas, em contraposição a sua empolgação desmedida quando se trata de comentar a última notícia sobre determinado famoso, seja artista ou figura política”, ressaltou.

Passo a passo

O módulo 1 intitulado “Da fofoca oral à fofoca na mídia: primeiro contato” teve o objetivo de reconhecer o nível de compreensão dos alunos sobre os gêneros fofoca e coluna social, observar a ortografia, a coerência e a coesão.

Para esta primeira atividade a professora utilizou uma publicação do site EGO em que havia uma fotografia da atriz Isis Valverde com um decote provocante. Ela orientou os alunos a observar a fotografia e em seguida, orientou-os, por meio da escrita, a reproduzir uma fofoca, como uma pessoa falando informalmente sobre alguém, e depois produzir uma notícia sobre um acontecimento, como se fosse um repórter.

O segundo módulo, “Informações implícitas em publicações de colunas sociais”, objetiva despertar, nos alunos, a reflexão sobre as leituras que realizam na Internet, de modo a perceberem informações implícitas. Reconhecendo o gênero discursivo coluna social, refletir sobre a origem da coluna social enquanto gênero secundário, em sua relação com o gênero primário fofoca.

Nesta etapa a professora apresenta dois textos de colunas sociais, nos quais propõe a compreensão de texto e interação oral a partir de questões discursivas. “A partir desses resultados das questões, o professor poderá tecer algumas considerações sobre o gênero notícia, no intuito de despertar nos alunos uma visão crítica sobre o gênero coluna social, sensibilizando-os para os motivos pelos quais um site de notícias publica tal texto”, acrescenta a docente.

Na terceira parte da sequência didática “A fofoca na imprensa: consequências do boato” as finalidades eram compreender a diferença entre coluna social e fofoca; diferenciar o gênero fofoca do gênero boato; e proporcionar reflexão sobre as consequências desastrosas de um boato na vida das pessoas.

Para iniciar a aula a professora falou sobre a notícia de um boato sobre o fim do Bolsa Família, discutiu o tema e, posteriormente, solicitou aos alunos que respondesse, às questões propostas sobre a notícia e reflexões sobre as consequências do boato. Isto para sensibilizar os alunos sobre a importância da confirmação de informações que chegam sem uma fonte segura, considerando-se a dimensão da importância do programa federal Bolsa Família para os beneficiados.

No módulo 4 propõe-se “A intergenericidade: fofoca e história em quadrinhos”, neste a docente trabalha o diálogo entre os gêneros textuais, em que uma fofoca é apresentada em forma de quadrinhos – “Joelma e Ximbinha: relembre a novela da separação do casal”, publicada no site EGO. O objetivo é perceber outros modos de significação do texto (imagem); identificar os elementos do gênero HQ; compreender a estratégia de paródia, como recurso de humor; e trabalhar a modalidade indireta do discurso relatado.

Neste exercício é solicitado que os alunos recortem de jornais ou revista uma figura de cada uma das celebridades que aparece na história em quadrinhos e depois transforme a HQ em uma coluna social. Para que depois eles troquem com o colega o caderno, crie um nome fictício e façam comentários de internautas na coluna social.

Na última atividade, “A leitura crítica em notícias sobre os bastidores da política”, o objetivo é despertar no aluno o senso crítico sobre o tema tratado na publicação. Com o desenvolvimento da leitura implícita dentro do universo político, que possibilite distinguir as reais intenções e informações das notícias dos bastidores de Brasília, blog do colunista Gerson Camarotti.

Nesta parte foi proposto ao aluno realizar uma análise da notícia “Dilma metaleira”, refletindo sobre a apresentação do blog do colunista Gerson Camarotti.

Ao término da sequência didática, é importante que os alunos saibam responder que a coluna social informa um fato irrelevante para sua formação enquanto leitores e cidadãos, e que apontem o tipo de conhecimento que poderia ser extraído do fato noticiado.

“A sequência didática materializa um dos objetivos da pesquisa, o qual se traduz na formação leitores-cidadãos conscientes, críticos e autônomos para realizar suas próprias leituras, mesmo quando se tratar de uma coluna social. Ao mesmo tempo, buscamos propor o desenvolvimento da leitura reflexiva quanto à posição que o aluno deve assumir enquanto leitor, capaz de construir um pensamento crítico e de absorver para si o que realmente contribui para sua formação enquanto leitor-cidadão”, finaliza a mestre pela UEMS, Sonia Gonçalves Batista, que continua a aplicar este método com os alunos em sala de aula.

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