Festival América do Sul | Da redação | 14/11/2016 07h38

Mariene de Castro se apresenta no encerramento do evento

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Uma obra de arte afro-brasileira mestiça, a cantora e atriz baiana Mariene de Castro, dona de uma voz poderosa, vai se apresentar no Festival América do Sul Pantanal 2016, hoje, às 22h30, na Praça Generoso Ponce. Mariene vai apresentar o show “Colheita”, nome de seu terceiro álbum de estúdio e o quinto da carreira, em que ela se mostra fiel a seus princípios, que emanam da cultura popular, com “a força que vem da raiz”.

Mariene de Castro despontou no cenário musical brasileiro identificada como uma força da natureza. A intimidade com o palco, que fica latente a quem assiste a um show da artista, começou muito cedo. Aos cinco anos, ela já se apresentava em espetáculos de dança no Teatro Castro Alves, em Salvador, sua cidade natal. Na adolescência, soltava a voz como integrante do grupo Timbalada, de Carlinhos Brown e, em 1996, teve a oportunidade de realizar seu primeiro show solo, no Pelourinho. No mesmo dia, na plateia, estavam produtores franceses que se encantaram por Mariene e a convidaram para uma turnê por 20 cidades da França. Na ocasião, chegou a ser comparada pela crítica local à mítica cantora Edith Piaf, pela força de sua interpretação e a singularidade de seu timbre vocal.

Em 2004, ganhou o Prêmio Brasken de Música e gravou o seu primeiro CD, Abre Caminho, escolhido no ano seguinte como o Melhor Disco Regional no Prêmio TIM. O segundo álbum, Santo de Casa – Ao Vivo, foi lançado em 2010, com a sala principal do Teatro Castro Alves completamente lotada. Antes do tributo a Clara, Mariene lançou ainda o álbum Tabaroinha, em 2012, e vem conquistando o reconhecimento de nomes de peso no mundo do samba, como Beth Carvalho, que a convidou para participar de seu CD e DVD Beth Carvalho Canta o Samba da Bahia.

Lançado em 2012, o DVD Ser de Luz tem no coro a participação especial de três integrantes da Velha Guarda da Portela: Tia Surica, Áurea Maria e Neide Sant’Anna, que conviveram com Clara Nunes e também ajudaram a orientar a cantora baiana fora de cena. João Nogueira foi compadre de Clara, e seu filho, Diogo, participa do tributo dividindo com Mariene a música Juízo Final, de Nelson Cavaquinho. Com Zeca Pagodinho, ela canta Coisa da Antiga, de Wilson Moreira e Nei Lopes. Clássicos como Conto de Areia (Romildo/Toninho), Guerreira (Paulo César Pinheiro/João Nogueira), A Deusa dos Orixás (Toninho/Romildo), O Mar Serenou (Candeia), entre outros grandes sucessos da saudosa cantora mineira estão no DVD.

Na safra de 2014, surge uma Mariene naturalmente mais madura e segura, ocasião em que tornou-se nacionamente conhecida – e o resultado de tanta dedicação faz de “Colheita “uma verdadeira obra de arte afro-brasileira mestiça”, como ela comenta no encarte do CD. “Esse projeto foi realizado de forma bem integrada e coletiva, com todo mundo colaborando e dando sugestões. Ficamos um mês convivendo juntos na casa do estúdio Toca do Bandido, o que contribuiu muito para o resultado”.

Samba e candomblé, atabaques e cordas, o rústico e o polido, o festivo e o amoroso, Amazônia e Cabo Verde: na ponte Rio-Bahia, Mariene congrega diversas influências, misturando ritmos, temas e tempos, num momento em que a cantora até modula a voz de maneira diferente dos álbuns anteriores, revelando-se mais suave. “A leveza do meu momento pessoal foi pro canto também”, diz ela. “Até pra mim foi uma descoberta. Eu já vinha cantando algumas coisas mais leves e isso ficou mais presente nesse disco. Mas sou a mesma Mariene do início. Esse repertório foi escolhido pelo coração.”

“Nós Dois” (Cartola) e “Retrato da Vida” (Dominguinhos / Djavan) são dois momentos exemplares dessa leveza no CD. Outra canção de amor, “Impossível Acreditar Que Perdi Você”, sucesso de Marcio Greyck, que a compôs com Cobel nos anos 70, Mariene decidiu gravar ao ouvi-la na trilha sonora do filme “Quase Samba”, de Ricardo Targino, em que atuou como protagonista ao lado de Otto.

Zeca pagodinho a presenteou com “Colheita”, que Nelson Rufino tinha dado a ele para gravar. “Observando a minha história, parece que essa música foi feita pra mim”, diz Mariene, que registrou o samba em duo com Zeca, por gratidão a ele.

Roque Ferreira é um caso à parte na história de Mariene. Presença constante no repertório da cantora, ele assina quatro faixas de “Colheita”: “Oxóssi”, “Tirilê” (parceria com Dunga), “Mágoa” (com Toninho Geraes) e “A Força Que Vem da Raiz”, esta uma canção antiga, que deu nome ao bem-sucedido show que ela fez em Salvador, depois de uma temporada na Europa no final da década de 1990.

Cigarra com espírito de formiga, Mariene conquistou merecido prestígio entre o público, especialistas em música popular e artistas compatíveis com seu talento, que lhe abriram caminhos e hoje correspondem à admiração e ao respeito dela por eles. Pela força dessas raízes, juntando cores, amores e sabores que unem Rio e Bahia desde que o samba é samba, a arte de Mariene se ramifica para aumentar o apetite de um território musical sem fronteiras, com o tempero próprio dela.

O show de Mariene de Castro será às 22h30, na Praça Generoso Ponce.

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