Manchete | Jeozadaque | 17/02/2009 14h14

Presidente da Fundac "Athayde Nery" fala com exclusividade sobre os projetos e a cultura local

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Poeta, ator, escritor, advogado e político, o atual diretor-presidente da Fundação Municipal de Cultura de Campo Grande (Fundac), “Athayde Nery” está com diversos projetos culturais que beneficiarão toda a classe artística da Capital e da região. Com uma grande experiência adquirida ao longo da sua carreira artística e política, Athayde recebeu a equipe do site de cultura regional “Ensaio Geral” para uma entrevista exclusiva, onde falou sobre os novos projetos culturais, a mudança da sede da Fundac para o ex-colégio Osvaldo Cruz, a importância da mídia para a cultura local e muito mais. Confira. Ensaio Geral: Antes de assumir a Fundação Municipal de Cultura você já possui alguma experiência cultural? Athayde Nery: Claro, em primeiro lugar eu sou poeta, coisa que eu já me dedico a algum tempo, tenho um livro “Silêncio Escancarado”, que tem uma forte influência aí de Manoel de Barros, Drummond, Joaquim Miranda, Guimarães Rosa. Então, sempre tive essa ligação com a cultura, fiz teatro, escrevi peça de teatro, aliás, o meu professor de teatro foi o “Américo Calheiros” que hoje é o presidente da Fundação de Cultura do Estado, quando eu estudava ainda no Lucia Martins Coelho. Tinha um anfiteatro lá que a gente pensou em fazer algumas atividades culturais. E nunca abandonei a minha veia poética, agora tenho menos tempo, mas continuo escrevendo. EG: E como foi para um artista de coração assumir a presidência da Fundação Municipal de Cultura? AN: Olha, foi um desafio e uma reflexão bastante profunda compartilhada com várias pessoas do grupo. Então, foi um desafio, mas que a gente aos pouquinhos, agora estamos conseguindo fazer com que os eventos, que já eram realizados, continuam a sua realização, não fizemos nenhum tipo de interrupção e partir daí estamos tentando inovar com novos projetos, novos pensamentos que haverão de constituir a cultura, que esse é o grande desafio, de não ser apenas um projeto de governo, mas ser um projeto de Estado. EG: Athayde você disse que não vai interromper os projetos culturais já existentes no município, quais os próximos projetos que você pretende implantar? AN: Olha, estão em gestação vários projetos. Projetos esses inspirados aí nessa administração que é “Campo Grande a Gente que Faz” que nós estamos colocando  “Cultura a Gente que Faz”, e o prefeito me deu essa missão de continuar nessa batida de imprimir uma marca que tenha uma coloração democrática e que estimule a todos os campo-grandenses, as pessoas que moram aqui, a pensarem a respeito de sua cidade. Nós estamos querendo criar a “Semana da Poesia Manoel de Barros” e com isso tentar trazer intelectuais de todo Brasil para discutir a obra de Manoel, mas não só a obra de Manoel, nós temos aí vários outros poetas aqui que podem nos ajudar nisso e cultura não é só a poesia, a música, a dança, a cultura também é discussão filosófica. Formulações que extrapolem apenas a feitura de eventos, ocupar os espaços, aqui por exemplo, nós temos o teatro “Octávio Guizzo”, é um teatro não pode ser usado para fins administrativos. Então tem que ter recuperado sua feição de teatro e o prefeito já garantiu que nós vamos fazer isso. Tem a questão da nossa sede que vai lá para o “Osvaldo Cruz” que é um bem tombado, fazer com que haja eventos permanentes de cultura na estação ferroviária, na vila dos ferroviários, interagir com aquele grupo. Nós queremos montar o “Consórcio Cultural de cidades”, que seria abranger cidades como Ribas do Rio Pardo, Terenos, Sidrolândia, Jaraguarí, Bandeirantes ir até Rio Verde, Maracaju fazer uma formatação aumentando a nossa gama de pessoas que serão atingidas. Eu conversei com o prefeito de Ribas do Rio Pardo e faz 20 anos que não recebe uma peça teatral lá. Então, por que nós não fazemos isso? Trazer o artesanato deles aqui e lavando os nossos atores e nossos artistas. EG: O que você tem a dizer sobre o público que assiste aos eventos culturais em Campo Grande? AN: Essa é uma preocupação. Eu, agora nesses 20 dias que estou à frente da Fundac, fui a todos os eventos que realizamos, e pude perceber uma certa frieza por parte do público, por culpa deles? Não! É que a gente tem que perguntar o que esse público quer. Nós queremos interagir, construir mais esse carinho, estar consultando, falando, estimulando, inclusive que esses eventos tenham patrocinadores, que estes patrocinadores estimulem uma gama de atividades que possam interagir ainda mais, fazer prêmios, cadastros, fazer perguntas. Já que todos estão ligados na internet, nós estamos fazendo o site da fundação mais ágil e interativo para que as pessoas possam se comunicar mais e nós saibamos o que elas querem, então nós estamos entrando agora em um processo de querer descobrir e saber quem é esse público que têm ido aos eventos. Para você ter uma idéia, nós fomos no São Conrado, um dos bairros que fomos assistir ao evento, daí ouve um tiro lá. O tiro passou, as pessoas entraram em desespero e falaram “Isso é normal”. Não, isso não é normal! Ninguém pode achar um tiro em um evento normal. Nós temos que rever essa situação, como está sendo feito esse evento, será que nós temos que fazer uma preparação aqui? Será que não temos que trabalhar melhor isso? E aí essa população, quais são as preocupações dela? Quais são as prioridades? Então nós temos que fazer cultura, mas uma cultura que ganhe o coração das pessoas. O evento acabando aquilo tenha desdobramentos, que haja mensagem no que a gente faz, que haja uma finalização do que nós queremos. Nós queremos tolerância, temos que falar de tolerância. Temos que ser tolerantes. Nós queremos falar de igualdade, temos que mostrar essa igualdade, enfim, são desafios que a cultura exige e fazer cultura é sonhar o tempo todo e ver, desses sonhos, o que a gente pode realizar, e nesse primeiro momento o prefeito “Nelsinho Trad” tem dado todo o apoio tem estimulado essa nossa equipe, que está aqui na fundação, “Construa asas, não tenha medo de voar”, para a gente possa estar fazendo dessa cidade uma permanente interação entre sua população e sua administração. EG: Você acha que Campo Grande tem o reconhecimento artístico que merece dentro do Estado e até mesmo no Brasil? AN: Não! Claro que não. Precisamos ainda fazer muito, por exemplo, nós temos Manoel de Barros, precisamos explorar mais Manoel de Barros, temos Geraldo Espíndola, Paulinho Simões, Almir Sater. EG: E porque não acontece essa exploração? AN: Porque nós temos que fazer essa ponte de cultua-los, de leva-los mais para as escolas, de falar das histórias deles, das letras, conversar, fazer oficinas sobre isso. EG: Você acha que falta interesse dos campo-grandenses pela cultura? AN: Não, ninguém tem desinteresse pela cultura, é que nós não estamos conseguindo chegar até eles. A cultura é um elemento de persuasão natural, feito o contato com ela, seja em qualquer área, ela causa um furor psicológico, a pessoa não é a mesma depois de uma peça bem feita, música, uma orquestra sinfônica. Acho um desafio muito interessante e os campo-grandenses quando perceberem que nós estamos com esse objetivo de geral novos talentos nós geraremos novos, mas não impede de estar inovando. EG: Como vê a participação dos artistas nos projeto e editais culturais? AN: Eles estão participando pouco. Acho que tem que haver mais interação, vamos mexer ainda mais, isso por culpa da gente não é nem por culpa dos artistas, falar ‘olha estamos aqui’, de não criar barreiras burocráticas. Vamos facilitar o máximo para que as pessoas venham. Vamos transformar essa fundação em uma embaixada da arte, do artista, da população, que haja debates permanentes. O objetivo de ir para o Osvaldo Cruz tem muito disso daí, de ter ali um espaço que as pessoas percebam que ali é para respirar arte. EG: Sobre a Copa de 2014, a cultura vai ganhar com a copa aqui em Campo Grande? AN: Nossa, não só a cultura, mas todos os mecanismos, todos os caminhos da nossa cidade haverão de ser influenciados pela Copa de 2014 que tem essa magnitude de ser um dos eventos mais importantes do planeta de envolver bilhões de pessoas, assistindo aquele momento. Imagina você colocando Campo Grande como a porta de entrada para o Pantanal. EG: Como você vê o apoio da mídia para a cultura local? AN: Nós estamos melhorando. A imprensa, ela precisa dessas notícias, dessas idéias, dessas realizações, se a gente não fizer nada, como que ela vai noticiar? Então, eu acredito que à medida que nós formos cobrados pela imprensa, pois isso é um papel fundamental e vocês do Ensaio Geral estão de parabéns por estarem indo nessa vereda tão difícil, mas que precisa ser estimulada, acho tem um papel decisivo para elevar a auto-estima. Porque, você não faz somente as coisas que você gosta, você tem que fazer as coisas que muitas pessoas gostam ou que um grupo reduzido goste e que tem que ser respeitado. Eu estava vendo como o Clube do Laço envolve centenas de pessoas, e é um evento importante que as pessoas se reúnem e têm suas atividades. É um momento cultural e agente, muitas vezes, não olha isso. A mesma coisa um evento no Centro de Tradições Gaúchas, o sertanejo, o axé, o Mukando Kadongo, o rap, o street dance, a capoeira. Então, a gente tem que ter essa sensibilidade para não achar que só é bom aquilo que você gosta, o quanto a cultura é  múltipla, ela é diversa e ela atinge de mil maneiras uma comunidade e nós queremos ser esse instrumento para estar levando todos esses pensamentos culturais. Foto: Luciana Navarro

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