Fundação Edson Queiroz abre grande exposição sobre a Semana de Arte Moderna
A Fundação Edson Queiroz (FEQ) recebe, até dia 31 de julho, uma grande exposição sobre os “100 anos da Semana de Arte Moderna em acervos do Ceará”, em celebração ao centenário do movimento que teve papel fundamental na consolidação do modernismo no Brasil. Com curadoria de Regina Teixeira de Barros e consultoria de Aracy Amaral, a mostra ficará em cartaz no Espaço Cultural Unifor, com acesso gratuito a toda a população.
“A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um marco na história da arte brasileira e como uma grande entusiasta das artes e detentora de um belíssimo acervo de artistas modernistas, a Fundação Edson Queiroz não podia deixar de homenagear o movimento. A mostra é também uma oportunidade de lançar um olhar inédito sobre a produção artística do Ceará, exaltando a capacidade vanguardista dos nossos artistas, como temos feito ao longo dos nossos 50 anos de existência”, destaca a presidente da Fundação Edson Queiroz, Lenise Queiroz Rocha.
“A exposição 100 anos da Semana de Arte Moderna em acervos do Ceará apresenta obras da Fundação Edson Queiroz e de importantes coleções públicas e privadas do Ceará, em celebração ao centenário desta efeméride que marcou a arte e a cultura no Brasil. Além das artes visuais, os trabalhos expostos abordam linguagens como literatura, teatro e música, sempre sob um forte viés pedagógico, aliando arte e educação, de modo a atender os públicos mais diversos”, salienta o professor Randal Pompeu, Vice-Reitor de Extensão e Comunidade Universitária da Unifor.
Obra-símbolo
Tendo como obra-símbolo a tela “Figuras (Seresta)”, de Emiliano Di Cavalcanti, a mostra “100 anos da Semana de Arte Moderna em acervos do Ceará” reúne cerca de 150 trabalhos que manifestam uma vontade de renovação, mesmo sentimento que serviu como mote para que, em 1922, um grupo de artistas e intelectuais cariocas e paulistas se reunisse no Teatro Municipal de São Paulo para protestar contra o conservadorismo que reinava na literatura, na música e nas artes visuais. Entre eles estavam Anita Malfatti, Di Cavalcanti e Victor Brecheret.
“As primeiras evidências da busca pelo moderno têm início em fins do século XIX e adentram o século XX, quando o Modernismo floresce como movimento artístico. A mostra abrange todo esse período, acompanhando as concepções de moderno e suas diversas particularidades”, explica a curadora da exposição, Regina Teixeira de Barros.
Segundo Regina, apesar de a Semana de 22 ter ocorrido em São Paulo, o desejo pela modernização das artes se espalhou pelo Brasil e influenciou também a produção artística no Ceará. “As reformas urbanas, a construção de teatros amplos -- a exemplo do Teatro José de Alencar em Fortaleza --, o agrupamento de escritores que se rebelavam contra as regras da academia, além das inovações musicais são indicativos que perpassam diversas capitais, de norte a sul do país”, enfatiza.
A exposição que entra em cartaz no Espaço Cultural Unifor privilegia a produção de artistas plásticos modernos, mas também apresenta os primeiros passos do movimento modernista na literatura, artes plásticas, arquitetura, fotografia e música do Ceará. “A ideia não é mostrar a influência do modernismo nos artistas cearenses. É mostrar o que os cearenses estavam produzindo nesse período, mostrar que as produções aconteciam ao mesmo tempo, mas com características próprias”, explica a curadora.
As obras que compõem a mostra são provenientes da Fundação Edson Queiroz, detentora de um dos acervos mais importantes do Brasil, bem como de coleções cedidas pelo Governo do Estado do Ceará, Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC), Museu da Fotografia, pelo fotógrafo Gentil Barreira e curadora Patrícia Veloso, entre outros colecionadores particulares.
Por dentro da mostra
A exposição “100 anos da Semana de Arte Moderna em acervos do Ceará” será dividida em três núcleos. Um deles vai reunir obras de artistas que antes mesmo da semana de 1922 já esboçavam o desejo de renovação por meio da sua arte: seja pelos temas tratados ou pela maneira de pintar. Neste espaço, as obras de Eliseu Visconti, Belmiro de Almeida e Arthur Timótheo da Costa dialogam com a produção singular da Padaria Espiritual, agremiação de escritores e intelectuais cearenses que pregavam a renovação das artes.
Ainda neste núcleo, uma sala será dedicada exclusivamente à arquitetura de Fortaleza no início do século XX. Além de se deparar com uma maquete do Teatro José de Alencar (inaugurado em 1910), o visitante verá projeções fotográficas de exemplares da arquitetura do ferro e da arquitetura eclética da capital cearense na época.
Na última sala desta sequência, instrumentos musicais do final do século XIX contam um pouco da história da música feita no Ceará naquela época, enquanto projeções sonoras envolvem o visitante e o transportam às primeiras décadas dos anos 1900. A pesquisa musical para a montagem do espaço foi realizada pelos maestros da Camerata Unifor, Marcus Vinicius Cardoso, e da Big Band Unifor, Robson Lima. Partituras originais de marchinhas e maxixes serão expostas ao lado de um gramofone e um oficleide, instrumento raríssimo, antecessor do trompete.
Um segundo núcleo vai reunir obras de artistas que participaram diretamente da Semana de 1922, como Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret e Vicente do Rego Monteiro, e artistas da chamada “primeira geração modernista”, como Ismael Nery, Antônio Gomide, Tarsila do Amaral, Lasar Segall e Cícero Dias. “Esse segmento apresenta uma seleção de obras dos artistas que se destacaram ao longo da década de 1920, seja pela busca de uma representação da identidade nacional, seja pela evidente liberdade de experimentação.” O catálogo da exposição no Teatro Municipal (desenhado por Di Cavalcanti), os programas dos concertos e palestras que aconteceram durante a Semana, o Manifesto Antropófago e outros documentos também farão parte dessa sala.
O terceiro núcleo é dedicado aos anos 1930 e início dos anos 1940, quando a preocupação social se torna essencial para os artistas. O artista mais emblemático desse período é Cândido Portinari, que está representado na exposição por quase uma dezena de pinturas. Além dele, grandes nomes que surgem nos anos 1930 e se tornam destaques do modernismo nacional, como José Pancetti, Alfredo Volpi, Burle-Marx, entre outros, também poderão ser vistos neste núcleo.
“A primeira sala desse segmento é dedicada aos pintores cearenses Vicente Leite e Raimundo Cela e a vitrines com livros de Rachel de Queiroz e do Grupo Clã. No fundo, vamos ter uma série de surpresas, com trechos do filme de Orson Welles, fotografias da estada dele em Fortaleza, fotografias do cangaço e, ao mesmo tempo, as primeiras obras do Antônio Bandeira, que vai constituir, vamos dizer, a onda de pintura moderna que vai começar no Ceará nos anos 1940. A exposição termina com três cartazes que Jean Pierre Chabloz fez para a Campanha da Borracha, em 1943. A chegada dele dá início a um novo capítulo da história da arte no Ceará”, conta Regina Teixeira de Barros.
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