Criolo é ovacionado pelo público jovem na segunda noite do Fasp
“A revolução é assim, através do amor”, aponta o índio, cabloco, cafuzo, ou melhor, o brasileiro Criolo, para a multidão que acompanha seu show, na Praça Generoso Ponce, em Corumbá. A segunda noite do Festival América do Sul Pantanal (Fasp), na sexta-feira, foi memorável com a presença de um dos maiores artistas da cena do rap nacional contemporâneo, nascido na favela paulistana e vivido “o pão que o diabo amassou”.
“Se a praça é do povo, vamos celebrar esse momento, com o bom pensamento e sentimento em família. Sinto aqui uma das maiores famílias do Brasil”, foi um dos seus recados à galera que gritava seu nome em clima de êxtase, levando verdades e amor para os corações adolescentes ali presentes. “Chega de genocídio, só amor, sentimento, essa juventude maravilhosa não aguenta mais a hipocrisia”, diz esse missionário da paz e do amor.
Cidadão comum
Criolo chegou a Corumbá no início da semana e perambulou pela cidade como uma pessoa comum, às vezes sem ser percebido, e encontrou nas manifestações e calor humano do público a verdadeira adoração a sua música, que descreve o que vivenciou nesses 40 anos de vida, seja pelo Grajaú ou por outra quebrada de São Paulo. Música esta que transita não somente pelo rap, mas apresenta sonoridades misturando o soul, samba, afrobeat e o brega.
Uma das principais atrações da 14ª edição do Fasp, ele foi ovacionado pelos presentes à praça durante o show “Ainda Há Tempo”, título do seu primeiro CD e cujo espetáculo entrou em turnê há dois anos. O show, no formato clássico do hip hop, com DJ e MC no palco, durou uma hora e meia – parecia interminável diante da energia e da sintoniza entre o artista e seus fieis escudeiros. Ao final, dezenas de fãs invadiram os camarins para toca-lo e reverencia-lo.
Semeando o amor
Os versos fortes e críticas sociais predominantes no show refletiram na noite calma, semeando o amor entre os jovens, que se abraçavam e se emocionavam, enquanto o forte esquema de segurança estava preparado para eventuais distúrbios. Criolo fala dos preconceitos da sociedade à música que semeia e pede reflexão: “É tanta coisa na cabeça sai fora, me esquece, sem saúde, sem paz o nosso povo padece. Sou um cidadão comum com vontade de vencer”
No show, o rapper relembra os clássicos de sua estreia, quando ainda era o Doido do Grajaú, com um repertório formado por músicas forradas de pedradas como “É o Teste”, “Tô Pra Vê”, “Chuva Ácida”, “Demorô”, “Até me Emocionei” e “Chega”. As projeções do artista Alexandre Órion no palco são o fio condutor. Enquanto canta, Criolo parece caminhar pelas imagens que representam paisagens do submundo que conviveu, além de alcançar o céu e o inferno.
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