Sesc | Da redação | 29/03/2016 14h46

Morada dos Baís recebe exposição sobre Comunidades Indígenas

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No dia 05 de abril, terça-feira próxima, o Sesc Morada dos Baís fará abertura da exposição “Oriente/Ocidente - Comunidades Indígenas do Paraguai”, do fotógrafo Juan Britos. A vernissage será às 19 horas, mas a exposição estará aberta à visitação de terça a sexta-feira, das 8h às 20h e aos sábados das 10h às 18h.

Paraguaio, de Assunção, Britos iniciou em 1992 um intenso registro sobre os indígenas do Paraguai e em 1993 sobre os paraguaios em Buenos Aires, onde permanece por um ano. Recebeu o 2º prêmio no concurso Jacinto Rivero, Fundação Faro para as Artes, com o projeto Oriente/Ocidente Comunidades Indígenas do Paraguai (2001), e o 3º prêmio no Concurso de Fotografia da Revista Acción (2003), em Assunção. Representa o Paraguai na I Bienal Internacional de Fotografia, Curitiba (1996), Bienal Internacional do Mercosul, Porto Alegre (2003), 26ª Bienal de São Paulo (2004) e na exposição internacional de artes plásticas do Festival América do Sul 2005, em Corumbá, Mato Grosso do Sul. Em 2005 também foi convidado para a Feira Foto Arte em Brasília e apresentou sua mostra Visible Invisible em Assunção. Nos anos de 2007 e 2008 participou da mostra La Madera de las Misiones nas cidades de Sarrebourg, Le Mans e Lyón, na França. Em 2009 reapresentou a mostra Visible Invisible no Centro Cultural Cooperación, em Buenos Aires, Argentina.

Há dez anos, o fotógrafo vem trabalhando através da fotografia a questão indígena, sem uma tematização: perambula por diversas situações do cotidiano, do rito, do trabalho, e expressa ao seu modo, e apoiado por convincentes argumentos formais, os diversos modos de abordar um cenário conflitivo que requer acessos plurais.

Mas, o acesso a essa cena difícil, exige, além de tudo, assumir as diferenças entre mundos simbólicos diversos. No Paraguai convivem 17 grupos étnicos pertencentes a 5 grandes famílias linguísticas. Segundo seus módulos de subsistência, distinguem-se em dois grandes complexos culturais correspondentes aos caçadores e colhedores por um lado, e, aos agricultores, por outro. Os primeiros estão integrados por diversas comunidades pertencentes às famílias linguísticas zamuco, mataco, guaykuru e maskoy, assentadas nas amplas estepes, palmares e zonas florestais do Chaco Paraguaio; os agricultores fazem parte dos diferentes grupos guarani, localizados na Região Oriental. Mas, como qualquer outra classificação lançada nos âmbitos da cultura, esta exige ser novamente complexificada. Os Aché, caçadores e colhedores guaranizados, habitam na Região Oriental, enquanto que outras comunidades guaranis, como os chiriguanos e ñandeva moram desde os tempos da colônia no Chaco. Mas os próprios formatos produtivos que servem de base a estas classificações não têm sustentação hoje por causa dos graves conflitos que afetam a economia tradicional das minorias étnicas, e tendem a uniformizar por baixo suas pautas culturais. O impacto avassalador dos modelos neocolônias e a devastação ambiental, do mesmo modo que a redução dos seus territórios, produz dramáticas alterações no cotidiano, assim como nos sistemas e fontes de sobrevivência. Diante deste obscuro panorama de exploração, marginalidade e miséria, os indígenas encontram-se hoje frente ao angustiante desafio de reacomodar suas antigas formas aos requerimentos dos modelos hegemônicos da sociedade nacional, de um modo geral, adversários da diferença.

Juan trabalha com grupos diversos: ayoreo, chamacoco, toba-qom, nivaklé, mbyá e aché. Em graus variáveis, todos esses setores diferem entre si na sua concepção de um mundo e nos seus sistemas de produção, mas todos entre si compartilham problemas comuns: a difícil tarefa de afirmar insistentemente sistemas alternativos de vida num presente que, ainda que suponha tolerância, de fato, somente admite um modelo: o próprio – regido pela lógica do mercado e fundamentado nas certezas do Centro. O preço de ser o outro: o etnocídio, a marginalização e a miséria, a depredação do meio ambiente. É sabido que Juan Britos não evita estes fatos dolorosos, mas não se detém neles. As culturas indígenas exigem outras leituras, paralelas as da denúncia e complementárias a estas: mostrar os povos na sua diferença pode-se constituir uma forma de lutar por eles e apoiar a autoafirmação com pequenos gestos e graves movimentos que indicam no dia a dia o caminho esquivo do sentido: os caminhos plurais de culturas diferentes.

Por este motivo, esta fotografia levanta o olhar até zonas sagradas, o mantém frente aos transtornos do fazer diário e não baixa os olhos diante da discriminação e do agravo. Talvez, um de seus maiores méritos, descontados aqueles estético-formais, esteja nessa forma múltipla de aproximar-se a um mundo, a vários mundos, sem perder a distância que resguarda a diferença e funda o jogo dos olhares. O olhar do fotógrafo que perturba o transcurso do tempo. O olhar do indígena que se sente contemplado e observa, diretamente ou não, quem o enxerga do outro lado (ainda que este lugar estivesse muito próximo, ainda que compartilhe com este lado o mesmo solo árido e o mesmo bosque cheio de alagados). E por esta razão, em parte Juan Britos retrata também sua própria condição de testemunha assombrada, de solidário participante: de quem precisa afirmar seu próprio lugar para assumir uma posição simétrica diante de quem sustenta o seu.

O Sesc Morada dos Baís fica na Avenida Noroeste, 5140. Informações 3311-4300.

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