Palestra | Da redação | 15/02/2016 09h53

Clarissa Suzuki fala sobre história do ensino da arte na Capital

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Na tarde deste sábado (13), a arte educadora Clarissa Suzuki, mestre em Artes pela USP, ministrou a palestra “A inserção da arte no processo escolar – percursos de ação e avaliação” no teatro Aracy Balabanian do Centro Cultural José Octávio Guizzo.

Clarissa é coordenadora de projetos no Instituto Arte na Escola, entidade que há 27 anos atua na área da arte e cultura com foco na formação de professores. É também a coordenadora do “Prêmio Arte na Escola Cidadã”, único prêmio específico de arte na educação formal do País.

Em sua palestra, Clarissa fez um percurso pela história do ensino da arte. Primeiro falou sobre os Jesuítas, que se utilizavam da retórica e do fazer manual, e dos indígenas e africanos, que se utilizavam de processos educativos coletivos.

Segundo ela, o ensino da arte começou oficialmente em 1826, com a construção da Academia Imperial de Belas Artes. De 1889 a 1965 o marco foi a Escola Nacional de Belas Artes. “A partir de 1870, com a industrialização, foi intensificado o ensino de desenho: gráfico, artístico, industrial e decorativo. O método de avaliação era o produto final”.

A palestra prossegue com a exposição sobre a Reforma Rui Barbosa, em 1880, que deu atenção especial e maior número de páginas ao ensino do desenho. Com o Modernismo, surgiram as escolinhas de arte da educação não formal, e se primava pela livre expressão e medo da cópia.

“Na década de 1930, com Villa-Lobos, foi introduzido o canto orfeônico, com caráter folclórico e cívico. A Escola Nova trouxe o questionamento de como avaliar o espontaneísmo. Já em 1971 o ensino da arte tornou-se obrigatório, com a LDB 5692-71. Em 1976 surgem os cursos de Educação Artística, com o seu tecnicismo: arte utilitária, técnicas, datas comemorativas”.

Clarissa explica que na década de 1980 surgem o movimento político e as associações, e a partir de 1990 a abordagem passa a ser triangular (contextualizar, ler, fazer). As discussões contemporâneas englobam a lei 7032-10, que propõe o ensino de todas as linguagens. E 2013 sugere-se a interculturalidade e cultura local e a música no ensino das artes. Em 2015, a polêmica Base Nacional Curricular Comum propõe que as artes são subcomponentes e não mais uma disciplina.

“As abordagens contemporâneas são híbridas, transdisciplinares, interculturais e virtuais. As minhas sugestões a respeito da avaliação em arte são: pautar, observar, conhecer e reconhecer, tendo em mente o processo de aprendizagem, as atitudes de produção e de ação e as capacidades reflexivas e criativas do aluno. Os instrumentos de avaliação podem ser utilizados, como apresentações, cadernos e portfólios, protocolos e exercícios poéticos do corpo, além de vídeos e fotografias”.

A palestrante termina sua exposição com a pergunta: “O que o ensino de história da arte nos ensina”. Foi aberta a participação do público, que sugeriu as seguintes respostas: políticas educacionais, momentos históricos no país e no mundo refletem-se em sala de aula, e a necessidade de se conhecer o passado para não errar no futuro.

As professoras Maria Celene de Figueiredo Nessimian e Aline Sesti Cerutti, coordenadoras do Polo Arte na Escola da UFMS, estimularam os apresentes a elaborar projetos para apresentar no prêmio Arte na Escola, do qual Clarissa é a coordenadora. Elas falaram sobre o acervo de livros e da DVDoteca do polo, que está à disposição dos professores para serem utilizados em suas aulas. Celene e Aline ofereceram apoio para a elaboração de projetos para concorrerem ao prêmio. Os interessados podem entrar em contato pelo e-mail poloartenaescolms@hotmail.com e obter mais informações no blog www.professorpesquisadoremartes.blogspot.com .

Esteve presente na palestra o arte educador Maicon Moreno da Costa, agraciado com Menção Honrosa pelo prêmio em 2015, o único ganhador de Mato Grosso do Sul. Ele foi premiado pelo projeto Vivenciando a Pré-História. “O projeto ocorreu com alunos do sexto ano do ensino fundamental do Sesc, em que os alunos experimentaram a arte rupestre, principalmente a pré-história de Mato Grosso do Sul. Eu, com os professores colaboradores Lia Brambilla (Língua Portuguesa), Andrea Arce (Artes) e Carlos Gonçalves (Ciências), visitamos sítios arqueológicos na cidade de Alcinópolis (MS), onde coletamos materiais para melhorar nossa prática em sala de aula”.

Maicon conta que os alunos montaram uma exposição com pinturas rupestres, vídeos, materiais líticos (ferramentas de pedra lascada). No final do projeto, os participantes apresentaram os trabalhos para os alunos do primeiro ano do ensino fundamental e fizeram uma visita ao Museu de Arqueologia da UFMS (Muarq). O trabalho pode ser conferido no youtube (Projeto Vivenciando a Pré-História).

O professor Órion Dias trabalha com arte há mais de 20 anos nas redes estadual e municipal. Ele ficou sabendo da palestra pelo grupo da Associação Sul-Mato-Grossense de Arte Educadores (Asmae) no Whatsapp. “Achei interessante o tema da palestra, pois apresenta a história da arte numa visão mais ampla. Eu realizo minhas avaliações em sala de aula segundo os critérios de produção, criação e criatividade, e vi um paralelo com o que a palestrante falou. Acho que estou no caminho certo”.

Maria Inês de Andrade Carlos é professora de Artes há 17 anos e trabalha nas redes estadual e municipal. Ela é formada em Artes Visuais pela UFMS e busca promover a arte e a cultura em sala de aula. “Nós debatemos com os alunos, trazemos informações e procuramos pensar sobre a cultura regional, para valorizar os artistas locais. Procuramos mostrar outros caminhos que às vezes os estudantes nem sabem que gostam. A palestra da Clarissa com certeza acrescenta muito, ela traz referências, bom conhecimento do ensino da arte e proporciona boa troca de conhecimento”.

A secretária adjunta da Secretaria de Estado de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação (Sectei), Andréa Freire, encerrou o evento falando sobre a importância de se unir Cultura e Educação. “Sou formada em Teatro com experiência em sala de aula, mas não no ensino formal. Agora, como gestora pública, penso em qual é o legado que vamos deixar. Pensamos em realizar ações para unir Cultura e Educação. O conhecimento da Clarissa fortalece essa ação. Pensamos num compromisso futuro entre Sectei e SED”.

Andréa lembrou da passagem da atriz Letícia Sabatella em Campo Grande e de sua descoberta com os índios. “A Letícia Sabatella falou que quando estudava artes e teatro era falado muito sobre a Grécia, mas depois ela descobriu todo um universo quando conheceu uma aldeia indígena. Quando a gente fala em ensino da arte a gente tem que descobrir como vai despertar essa criança, partir do universo da criança para dialogar com ela e trazer novas realidades”.

“A Sectei vem se instrumentalizando para abrir mais os espaços, para serem realizadas aulas nesses espaços. Este é um momento precioso de romper paradigmas e criar outros por meio do trabalho na gestão pública”.

O evento, com entrada franca, terminou com um lanche coletivo. A realização é da Associação Sul-Mato-Grossense de Arte Educadores (Asmae) com apoio da Sectei/ FCMS e Associação Campo-Grandense de Professores.

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