Veríssimo admite ‘roubo’ na infância: “Foi por amor”
Luís Fernando Veríssimo, 77 anos, tinha “uns 7 anos” quando cometeu seu alegado único crime: roubou uma pulseira da mãe. Queria presentear “uma morena, cabelos longos”. Era uma colega de classe. A confissão – assim como a justificativa: “foi por amor” – está em “A Pulseira”, um dos 50 textos de “Amor Veríssimo” (editora Objetiva), coletânea lançada agora em janeiro.
O título é o mesmo da série que o canal por assinatura GNT estreiou no dia 8 deste mês. Os 13 capítulos, todos baseados em histórias românticas do escritor gaúcho, são descritos como “ficção”.
O próprio Veríssimo, em entrevista ao portal G1 por e-mail, afirma: “Há pouca coisa autobiográfica no que eu escrevo. Apesar de escrever bastante sobre casais se desfazendo e casamentos fracassando, estou casado ha 50 anos com a mesma mulher. O que não deixa de ser uma espécie de fraude”.
*O prefácio do livro cita que, dentre suas inspirações, estão as ‘artimanhas masculinas para levar uma mulher para a cama’. Alguém politicamente correto poderia questionar a impressão de que as artimanhas são habitualmente ou exclusivamente masculinas. Para você, isso não faz diferença, faz sentido ou é apenas chato?8
As “artimanhas” exclusivamente masculinas para conquistar uma mulher realmente ficaram obsoletas com a nova disposição feminina de tomar a iniciativa na conquista. Onde está “artimanhas masculinas” leia-se “artimanhas unissex”.
Quais artimanhas são mais eficazes, ou eficientes: as masculinas ou as femininas?
As “artimanhas” masculinas são eficazes quando a mulher está predisposta. São elas que decidem o que vai funcionar e o que não vai. Assim as “artimanhas” são quase supérfluas. O homem só pensa que está conquistando a mulher, que geralmente já tomou a decisão antes do primeiro “alô”.
No conto “A Pulseira’, você escreve sobre seu ‘único crime’ – o roubo de uma pulseira em casa, aos 7 anos de idade, para dar a uma garotinha. Aconteceu de verdade?
Aconteceu, em Los Angeles. Meu pai [o escritor Erico Veríssimo (1905-1975)] tinha ido lecionar Literatura Brasileira na Universidade da Califórnia e, entre São Francisco e Los Angeles, ficamos dois anos, de 43 a 45. Foi meu único crime até hoje, mas foi por amor.
No texto, você escreve: ‘Foi a sua total indiferença aos meus olhares e suspiros que me levaram ao crime’. Quer dizer que, se a mulher desde o princípio corresponde, então o sujeito se conforma e não ousa? Teria sido assim com você?
Pode ter sido assim, mas eu, com 8 anos, não tinha condições de filosofar a respeito. Só queria dizer à menina que a amava. Ela até hoje não entendeu.
Alguma outra história é verdade?
Há pouca coisa autobiográfica no que eu escrevo. Geralmente me baseio no que ouço da experiência de outros, ou na pura invenção. Apesar de escrever bastante sobre casais se desfazendo e casamentos fracassando, estou casado ha 50 anos com a mesma mulher. O que não deixa de ser uma espécie de fraude.
As inspirações costumam vir da época anterior ou posterior ao seu casamento? Como já falei, pouco do que eu escrevo é autobiográfico. Mas antes de casar tive muitas experiências. Apesar da timidez, nunca fui um enclausurado e tive até minha fase de playboy filho de pai rico, que durou pouco por falta de vocação e de pai rico.
O último texto do livro é “O Amor Acaba”, em que um casal fala sobre a crônica do Paulo Mendes Campos. É sua crônica favorita sobre o tema?
É uma das minhas crônicas favoritas do grande Paulo Mendes Campos. Lírica e desencantada ao mesmo tempo. Mas ele e os outros cronistas daquela época, como Rubem Braga e Antônio Maria, têm vários textos antológicos.
Você já teve outras obras adaptadas para a TV. Alguma preferência?
As três temporadas de “Comédias da Vida Privada”, dirigidas pelo Guel Arraes, com textos de Jorge Furtado, João Falcão e outros, com o elenco de jovens comediantes da Globo, deu muito certo.
Se fosse para fazer o contrário, para se inspirar em algo originalmente feito para a TV (ou para o cinema ou para o teatro), e escrever um livro, qual seria sua escolha?
No livro “Os Últimos Quartetos de Beethoven e Outros Contos” a última história foi escrita originalmente como sinopse para um programa planejado pelo Fernando Meirelles. O texto não foi aproveitado e a sinopse acabou virando conto.
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