Avó quer abrir grupo de mulheres sinuqueiras
Dona Vilma Reis de Oliveira tem 71 anos e uma bagagem que vai além dos sete partos, seis filhos e 12 netos. Foi dona de bar e promotora de eventos de sinuca. Há duas décadas, descobriu o esporte nos intervalos do boteco, quando o movimento diminuía e ela podia entrar na partida.
A aparência é de avó. Usa óculos, fala um pouco devagar, tem fotos dos netos na sala, senta numa cadeira de balanço e tem um bordado a ser terminado em cima da mesa. Procura na caixinha de exames médicos a medalha que lhe consagrou campeã regional de sinuca da terceira idade. Não encontra, procura em baús, insiste, embora a gente explique que não precisa.
De profissão, dona Vilma fala que hoje é aposentada, mas trabalhou como merendeira em escolas até abrir e tocar o próprio negócio. Nascida numa fazenda perto de Campo Grande, ela e o marido só vieram para a cidade quando chegou a hora dos filhos estudarem. "Eu não queria que eles são soubessem nada como a gente", conta. A família vendeu uma chacrinha e aqui comprou casa em meados de 1985.
Como nem ela e nem o marido tinham escolaridade, o jeito que arranjaram para sobreviver foi abrindo um bar. "Eu trabalhava na escola e ele no bar, mas de manhã eu ajudava ele", conta. Em 1992, o marido morreu e ela assumiu o balcão do boteco e também a mesa de sinuca. Foi na década de 90 que jogar virou diversão e distração. "Eu tinha uma amiga que gostava de ir pra lá e a gente formava turma e jogava", descreve.
Quando encarou a terceira idade, entrou nos grupos e centros de convivência, onde passou a disputar campeonatos. O título de campeã regional veio recentemente, em 2012.
"O que precisa saber para jogar sinuca? Precisa gostar. Eu adoro jogar e me dou bem por isso, são duas coisas que eu gosto muito: jogar sinuca e dançar", revela.
A ideia hoje é de montar um grupo de mulheres sinuqueiras, mas sem delimitar idade. "A gente não tem espaço, as pessoas não valorizam a mulher na sinuca. Porque eles acham, no meu modo de pensar, que não é modalidade para mulher. Mas temos direito de tudo, o que eu gosto, tenho que fazer", defende.
Nos botecos por aí ela não chega e pede vez. Diz que só joga entre os amigos da terceira idade, mas não esconde a faceirice quando pode dividir a mesa com uma turma mais nova. "Geralmente a gente chega e tem 30 homens na mesa e eles não dão trégua não", brinca.
Além de gostar, ela ensina que treinar bastante é o caminho para conseguir levar títulos para casa. A sinuca, é também passatempo da senhorinha. "É muito bom para fazer amigos. No meu bar, eu nunca aceitei jogar a valer. Pode, mas só cerveja", avisa.
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