Literatura | Da redação | 22/11/2016 14h49

Livro lançado no Festival América do Sul Pantanal traz a produção de geografias no pantanal

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Durante o Festival América do Sul Pantanal, realizado de 11 a 14 de novembro de 2016, a docente dos cursos de Ciências Sociais e Ciências Econômicas da UFMS, professora Mara Aline Ribeiro lançou a obra “Entre cheias e vazantes – a produção de geografias no pantanal”.

Segundo a autora, a palavra “geografias”, usada no título do livro no plural, é uma forma de provocação ao leitor para instigá-lo a compreender o Pantanal, para além da Geografia enquanto ciência. “Essas ‘geografias’ expressam e revelam as relações de poder no interior do Pantanal, são prenhes de conflitos e contradições, elaboradas e construídas pelas gentes pantaneiras. Uma construção diária, vivida, praticada, produzida no Pantanal, como os ciclos das cheias e das vazantes”, afirma.

Obra – De acordo com a professora os registros de ocupação do Pantanal contam que, desde o século XVII, indígenas, portugueses, espanhóis, paraguaios, bandeirantes paulistas, bolivianos, entre outros, construíram e reconstruíram o território pantaneiro ao longo do tempo. A delimitação espacial da pesquisa foi o Pantanal do Abobral e o Pantanal do Aquidauana, por compreender uma região com cerca de duzentos anos de tradição pecuária e expressarem as transformações ocorridas no Pantanal no decorrer do tempo.

O Pantanal está dividido em fazendas, nas quais, até meados do século XX, se praticava prioritariamente a pecuária extensiva de corte. O período reconhecido como a “crise da atividade pecuária” (entre 1980 e 1990), levou os fazendeiros a vislumbrarem formas alternativas de complementação dos lucros, entre elas, a atividade turística se destaca.

No final da década de 1970, iniciou-se no Pantanal um período de grandes mudanças que culminaram, no começo do século XXI, com a ascensão de outras modalidades econômicas, com o avanço das comunicações e das tecnologias, impondo ao Pantanal novas relações socioeconômicas e novas pessoas. Esse reordenamento interferiu diretamente no território, na territorialidade, na produção do espaço pantaneiro e no modo de vida da população pantaneira.

A alteração espacial calcada na ordem mundial está ressignificando a Geografia do Pantanal, caracterizada por diferentes relações sociais entre os seres humanos e deles com a natureza.

As gentes pantaneiras vivenciam e constroem as novas relações com a natureza na produção do espaço. São homens, mulheres e crianças envolvidos diariamente na construção, reconstrução e ressignificação da Geografia do Pantanal.

A discussão proposta na obra se baliza nas novas relações em construção entre a gente pantaneira e a natureza, promovidas pelas transformações na produção do espaço do Pantanal a partir da década de 1970.

Trajetória – O livro está estruturado em cinco capítulos e é referenciado por uma trajetória da pesquisadora do viver pantaneiro desde 1993, que culminou no doutoramento da autora pela Universidade de Campinas (UNICAMP) e fez parte de seu processo um estágio no Laboratório do Centro de Estudos do Território, Cultura e Desenvolvimento – TERCUD, da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, em Lisboa – Portugal.

A experiência pessoal, de estudos e pesquisas na área delimitada desde 1993, permitiu à professora vivenciar o cotidiano pantaneiro e manter a maior proximidade possível da realidade local, como observadora participante. “Os anos de experiência no Pantanal foram alicerçados desde minha infância, entre as cidades de Aquidauana, de onde sou natural, Miranda e Corumbá. No meu pertencer pantaneiro, as lembranças permeiam os sabores das frutas (manga, goiaba, caju), o cheiro do peixe, o paratudal florido, o apito do trem, o som dos pássaros, as picadas dos mosquitos, o sol escaldante, o banho de rio e a pescaria. Nessa história existem paraguaios, bolivianos, indígenas, portugueses e assombrações. Assim, o Pantanal continuará fazendo parte da construção de meus saberes”, finaliza.

Mara Aline Ribeiro é Geógrafa, Mestre em Educação pela UFMS, Doutora em Geografia pela UNICAMP, com estágio de doutoramento em Lisboa/Portugal.

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