Geral | Da Redação/Com Ministério da Cultura | 27/07/2015 16h30

Ministério da Cultura defende conectar cultura tradicional e tecnologia

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Na manhã de sábado, 25 de julho, a Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge recebeu roda de prosa sobre acervos digitais e povos tradicionais.  A atividade fez parte da programação do XV Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros e contou com a participação do secretário de Inclusão Digital do Ministério das Comunicações, Jefferson D'Ávila, e do coordenador geral de Cultura Digital do Ministério da Cultura, José Murilo Carvalho Júnior.

A Vila de São Jorge está localizada no município de Alto Paraíso, a 240 Km de Brasília e conta com cerca de 600 habitantes. Na oportunidade, houve uma discussão sobre inclusão digital. O secretário de Inclusão Digital do Ministério das Comunicações, Jefferson D'Ávila, reconheceu que muito ainda precisa ser trabalhado na área de inclusão digital. "Não basta apenas instalar equipamentos, é preciso ouvir as comunidades para compreender suas demandas e verificar o que precisa ser feito", afirmou. Segundo ele, as comunidades tradicionais são um ator importante com o qual o governo mantém diálogo nesse processo. 

O coordenador geral de Cultura Digital do MinC, José Murilo, também participou da roda. Ele apresentou uma proposta do Ministério de Cultura para conectar a tecnologia com a cultura tradicional. O objetivo é pensar em soluções para uma política nacional de criação e preservação de acervos digitais, que devem ser integrados em um sistema único. "Dependemos muito de serviços de busca internacional, como Google e Bing, que conferem uma falsa impressão de integração. A Universidade Federal de Goiás está desenvolvendo uma plataforma para que um sistema brasileiro dê conta sozinho. Assim o acesso e o desenvolvimento serão mais simples", conta ele.

A idéia é que a partir de agora, o processo de digitalização seja feito em contato com representantes das culturas tradicionais. Para isso, foi escolhida a plataforma Wordpress, mais fácil de ser utilizada por quem não está acostumado com computadores e internet. Hoje, 30% do conteúdo online está nela. As redes sociais também serão exploradas.  Para Juliano Basso, o idealizador do Encontro de Culturas, as ferramentas simples da internet podem fazer um efeito fantástico na divulgação e manutenção das manifestações artísticas e religiosas das comunidades tradicionais. "Coisas simples podem mudar muito as comunidades. Estamos prontos para começar um desenvolvimento de políticas públicas que garantam a real inclusão dessas comunidades e o MinC tem a missão importante de conectar cultura, tradição e era digital".

O professor da Unirio e coordenador do Nepaa (Núcleo de Estudos das Performances Afro-Ameríndias), Zeca Ligiero, entrou na roda para apontar uma questão importante: nesse universo, as tradições orais são tão importantes quanto as escritas. As universidades, baseadas em um modelo europeu, não aceitam isso, o que representa um grande problema. "Também temos documentos e patrimônio material, mas é importante discutir no programa como podemos fazer para criar e preservar essa documentação oral", observou o professor. Segundo ele, além de preservar é necessário difundir. "Os jovens brasileiros não sabem nada sobre culturas tradicionais, indígenas e quilombolas. Mas aprendem tudo sobre Revolução Francesa na escola", desabafou. "Isso é uma loucura. Não conhecemos quem somos".

A pesquisadora Carla Águas, do INCTI (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão), completou dizendo que pensamos muito em manifestações culturais, mas esquecemos que a cultura traz muitos outros conhecimentos. "Existe um manancial de saberes invisíveis. Como quando um senhor diz ‘hoje vai chover' e chove". Ela contou a história de um estudante de matemática, morador da comunidade quilombola Conceição das Crioulas, em Salgueiro, Pernambuco. Ele escolheu o curso por conta de seu avô, grande construtor de cercas da região, famosas por serem feitas com ripas entrecruzadas. Para construí-las é preciso calcular mentalmente quantas ripas finas e grossas são necessárias para determinados terrenos. O neto aprendeu e agora quer unir os conhecimentos familiares com os conquistados na universidade, a fim de se tornar professor na comunidade.

Por isso mesmo, Carla está à frente do Encontro de Saberes, projeto financiado pelo MinC, que desde 2010 busca transformar grandes mestres de comunidades tradicionais em professores do Ensino Superior. "Quando você abre a porta, a comunidade reage", afirmou. 

José Murilo encerrou a conversa dizendo que o MinC se encaixa em muitos dos pontos discutidos. Fez uma chamada ao público, convidando iniciativas articuladas a se manifestarem a fim de fazerem parte do conteúdo dos acervos. "E o que é acervo? Além de tudo, podemos reinventar essa palavra para englobar todas as culturas do Brasil", finalizou.

Na ocasião, a cidade recebeu uma antena Gsat do representante do Ministério das Comunicações, pelos próximos dias para melhorar a conexão durante o XV Encontro de Culturas Tradicionais, quando a demanda pela internet fica muito maior.

Também participou da mesa a produtora cultural e ex-gerente de Cultura de Alto Paraíso de Goiás, Apsara Carvalho.

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