Geral | Da redação/com Ministério da Cultura | 10/03/2015 09h58

Inezita Barroso fez a ponte entre a cultura rural e a urbana

Compartilhe:
Inezita Barroso morreu no domingo, 8, em São Paulo, aos 90 anos. (Foto de Cleones Ribeiro/SESCSP) Inezita Barroso morreu no domingo, 8, em São Paulo, aos 90 anos. (Foto de Cleones Ribeiro/SESCSP)

A paulistana Inezita Barroso deixou um legado importante para quem aprecia, produz e estuda a cultura brasileira: o diálogo entres imaginários urbano e rural do país. A cantora, pesquisadora, atriz e apresentadora de televisão nasceu em 1925 na capital paulista, mas encontrou sua verdadeira paixão ao visitar a fazenda dos tios no interior de São Paulo. Foi lá que a menina se encantou pela música caipira. Os trabalhadores do local mostraram a ela as modas de viola.

"Muito do que a gente lembra dela está associado ao que fez durante últimos 35 anos, ao programa ‘Viola, minha viola', da TV Cultura, mas é importante lembrar que ela resgatou músicas do país inteiro, do nordeste ao sul, e fez ponte entre Brasil rural e urbano", afirma Guilherme Alpendre, amigo de Inezita e diretor do documentário "Inezita Barroso – a voz e a viola".

Alpendre lembra que Inezita sempre foi uma pessoa generosa, que não trabalhava apenas por dinheiro ou interesses próprios, mas por acreditar que o que fazia era em defesa da cultura do país. Com uma curiosidade intelectual imensa, ela pegou um Jipe em 1956 e rodou cidades do interior do estado de São Paulo, indo até a Bahia. Fez um trabalho de antropóloga e também de estudiosa musical ao recolher manifestações folclóricas. Montou assim um arquivo pessoal impressionante sobre a cultura do interior.

O início da carreira não foi fácil. A longa trajetória profissional teve início na infância, quando teve contato com um dos grandes mestres brasileiros da música caipira, Raul Torres. Inezita teve de aprender a tocar viola escondida, por ser considerado um instrumento masculino. Aos 11 anos, o pai vê o talento e o interesse da filha pela música e a matricula no conservatório para piano. Porém, entre 15 e 16 anos, a mãe Inês Aranha de Lima só permite que ela cante na igreja.

Determinada, Inezita escapa das proibições e consegue cantar nos serões, que ocorrem no bairro onde mora em São Paulo. Apesar do preconceito, também consegue comprar sua própria viola. "Enquanto mulher foi grande pioneira, quebradora de tabus e vencedoras de preconceitos. Foi uma heroína em vencer preconceitos de gêneros", avalia Guilherme Alpendre.

Aos 21 anos, Inezita forma-se em Biblioteconomia, pela Universidade de São Paulo (USP). Na vida acadêmica, como professoram também pesquisa e divulga, por meio de conferências, conhecimento sobre folclore brasileiro. Em 1948, casa-se e encontra no marido um grande apoio e incentivo para sua carreira.

A partir de então, Inezita acumulou momentos importantes e conquistas na carreira. A convite de Evaldo Rui, fez sua estreia na Radio Bandeirantes. Também participa da transmissão inaugural da TV Tupi e, pouco depois, se torna cantora exclusiva da Rádio Nacional.

Em 1953, pela primeira vez, começa a viver da música, ao ser contratada para cantar na Radio Clube de Recife, em Pernambuco. Nessa época ganha Prêmio Roquette Pinto, como melhor cantora de radio da música popular brasileira, e o Prêmio Guarani, como melhor cantora em disco. Além da música, Inezita atua em diversos filmes e, em 1955, com longa "Carnaval em Lá maior", ganha prêmio Saci de melhor atriz de cinema.

Aos 30 anos, lança diversos LPs. Na década de 1960, Inezita chega ao auge da carreira musical – que teria novo impulso com a ida para a televisão. Entre os sucessos dela, estão "Banzo", "Pingo d´água" e "Lampião de Gás". Na década de 1970 e 1980, acumula outros sucessos como "Divino Espírito Santo" e Rio de Lágrimas. Em 1990, apresenta programa musical e folclórico da Rádio Cultura AM de São Paulo.

O reconhecimento de um público mais amplo veio com o programa "Viola, minha Viola", na TV Cultura, que ela apresentou por mais 30 anos. Nele, a artista e pesquisadora sentia-se completamente à vontade e mostrava o interior do Brasil por meio de causos e apresentações musicais. Fazia assim a tão desejada ponte para o diálogo entres as cultura rural e urbana do Brasil.

O Ministério da Cultura reconheceu a importância da contribuição de Inezita Barroso ao conceder a ela a Ordem do Mérito Cultural (OMC). É uma condecoração outorgada a pessoas, grupos artísticos, iniciativas ou instituições, sendo entregue em 5 de novembro, que é o Dia Nacional da Cultura.

Inezita completou 90 anos na semana passada, no dia 4 de março. Na semana anterior, o "Viola, minha viola" gravou uma festa em sua homenagem. Artistas conhecidos e admirados por Inezita (como Léu, As Galvão, Lourenço e Lourival e Rodrigo Mattos e Praiano) cantaram músicas do seu repertório. Foi uma despedida à altura do talento de Inezita, mas que ela infelizmente não pode acompanhar por já estar hospitalizada.

VEJA MAIS
Compartilhe:

PARCEIROS