Exposição | Da redação | 16/05/2017 10h10

Mostra do Iphan retrata papel da N.O.B na construção da identidade do Estado

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O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional abre nesta terça-feira (16 de maio) uma exposição temporária e instalação sobre a história e as memórias da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. A mostra “O expresso memória | 7472” foi idealizada em conjunto com a Associação dos Ferroviários, Aposentados, Pensionistas, Demitidos e Idosos em Mato Grosso do Sul e apresenta um abrangente quadro do papel da ferrovia na construção da nossa identidade e conta com apoio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul.

De acordo com Sara Bernal, museóloga responsável pela exposição, a história da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil nos brinda com um emocionante relato de vida onde a memória trabalha como fio condutor capaz de remontar e reconstruir uma paisagem repleta de lutas, onde desbravadores anônimos vivenciaram seus dramas sociais e histórias muitas vezes sob o ritmo da violência. O som da construção e da abertura de caminhos para a linha férrea em terras do Pantanal passou por cima de embates indígenas, migrantes solitários e operários escravizados em terras onde a pistolagem iniciava suas primeiras incursões.

O vanguardismo dos trabalhadores ferroviários se fez, desde cedo em ação pioneira com a eclosão de uma das primeiras greves do setor, onde os operários reivindicavam melhores condições de vida em um momento em que o confronto diário se deu muitas vezes a toque de gatilho das espingardas dos capatazes de terras consideradas “públicas”.

O fim da jornada de trabalho significava muitas vezes o fim da jornada de vida, tal insalubre era a situação do operário ferroviário da Noroeste do Brasil. Sem comparações com nenhum outro estado do Brasil, a N.O.B não apenas encurtou o tempo das viagens ou trouxe o tão aclamado progresso ao Centro Oeste; mais do que isso, a N.O.B levantou a cortina para a riqueza etnográfica de uma região com vasta diversidade linguística, terras de nações indígenas já dizimadas, quilombolas, monçoeiros, de incursões registradas na historiografia ibérica à região de conflitos internacionais ainda a serem estudados sem o véu da mentira.

Quem perdeu, quem ganhou em tantas frentes de batalhas, pequenas e grandes, do índio ao ex-escravo, do bandeirante ao boliviano, ao paraguaio, ao japonês e a todos os outros imigrantes que cruzaram as águas do além-mar e as águas do Pantanal… Certamente compete a reflexão de cada um e não apenas aos livros oficiais.

Por ora, nós, como vocês – queremos ainda refletir sobre a extinção da N.O.B, queremos rememorar a história ferroviária em Mato Grosso do Sul, queremos desconstruir a desconstrução das nossas ferrovias – queremos fechar os olhos e acreditar que tudo não passou de um pesadelo e a N.O.B continua ainda a circular com o vagão 7472, de Bauru a Corumbá, de Ponta Porã a Três Lagoas e cruzando a vastidão dos nossos pantanais e por ai vai nesse mundão.

Esta exposição marca o início de um programa de preservação da memória ferroviária e o nascimento de um futuro museu.

Serviço: A abertura da mostra acontece nesta terça (16 de maio), às 18 horas no Saguão da Antiga Estação Ferroviária de Campo Grande. A entrada é franca.

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