Destaques | Jeozadaque | 17/10/2009 09h14

Artesão de Três Lagoas cria estátuas gigantes e animais da região em tamanho natural

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ze_miguelJá imaginou ter uma onça em seu jardim? Ou ir passear na beira de um rio e dar de cara com um dinossauro de 13 metros? Em Três Lagoas tudo isso é possível, através da arte do escultor José Miguel Leite, popularmente conhecido como “Zé Miguel”. Nossa equipe foi até Três Lagoas para conferir de perto a arte deste simpático artesão. Veja as fotos em nossa galeria. Aos 68 anos, o artesão é referência na cidade, e esbanja talento e profissionalismo ao criar animais da fauna sul-mato-grossense em tamanhos reais, utilizando areia, cimento, EVA e armações de ferro. O interesse por criar as peças veio por acaso e para salvar a vida de Zé Miguel, “Eu era alcoólatra e no Alcoólicos Anônimos (AA), me ensinaram que eu deveria ocupar a mente para me livrar do vício, como eu gostava dos bichos resolvi fazer as esculturas”, explica o artesão. No início, Zé Miguel começou a apresentar sua arte para os clientes de seu restaurante, localizado as margens do Rio Paraná. Como a clientela foi aumentando, o artesão resolveu se dedicar mais a arte e fez um dinossauro saindo do rio em direção ao restaurante com 13 metros de altura pesando 10 toneladas. A arte levou cerca de 68 dias para ser concluída e a partir daí, Zé Miguel passou a trabalhar profissionalmente com a escultura. O processo de criação Onças, garças, jacarés, tuiuiús e até um elefante em tamanho natural podem ser encontrados no ateliê do artesão. Quem vê as esculturas pode até se assustar com a naturalidade dos animais, podendo passar tranquilamente como verdadeiros. É que Zé Miguel faz questão de que as peças se pareçam reais. Para criar um animal, antes, o artesão vê uma foto ou até mesmo precisa conhecer de perto o animal para reproduzi-lo, “Eu fui pescador há 30 anos e conheço de perto todos os bichos que eu crio”, diz Zé Miguel, que abre uma exceção apenas para a onça, “Só a onça que eu não conheço, mas fui até um zoológico para ver e poder fazer as peças”, diz o artesão. Quando a imagem dos bichos enfraquecem na memória, o escultor recorre às fotografias e aos recortes de revistas, para que as obras não percam a semelhança com a realidade. De acordo com o artesão, uma peça média demora um dia para ser fabricada e pintada, sendo que a maior dificuldade no processo de criação é na hora das proporções dos animais, “Tenho que ter cuidado para uma onça não ficar manca ou sair com as pernas finas, assim é com todos os animais”, explica o artesão. Em meio a tantos animais, Zé Miguel revelou que seu preferido é a onça, “Ela é a que mais me dá trabalho e por mais que todas se pareçam, a malha de uma jamais é igual à outra”, diz o escultor. Mesmo as vendas não resultarem em um bom dinheiro, Zé Miguel diz que a maior recompensa que ele pode receber é o elogio das suas obras. Falta de apoio Apaixonado por sua arte, Zé Miguel trabalha sozinho, mas disse que tem vontade de ministrar aulas e ensinar sua arte para as crianças, o que o impede é a falta de apoio, “Eu até que comecei a dar aulas, mas não deu certo”, diz o artesão. De acordo com o escultor, o que o impediu foi à burocracia e o matéria-prima das peças, “Se eu for dar aulas eu não posso oferecer um certificado, porque não sou professor, e o material para as confecções das peças é caro, eu não posso custear tudo sozinho”, reclama Zé Miguel, que não recebe auxílio nem da prefeitura local e nem da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), o que é uma pena, pois uma arte como essas deveria ser passada a diante. Esta seria uma boa oportunidade da FCMS de oferecer uma oficina ministrada por Zé Miguel em Três Lagoas, afinal, a fundação oferece tantos cursos em outras cidades do Estado que este também poderia somar para a Cultura, além de perpetuar uma arte diferente entre os treslagoenses e dar continuidade ao belo trabalho do artesão. Apesar da arte de Zé Miguel ser algo diferente, e que valoriza a cultura Sul-mato-grossense, o escultor não realizou muitas exposições. Há cerca de dez anos, suas obras foram expostas na Capital e no decorrer do tempo apenas em Três Lagoas, como na Festa do Folclore e na Exposição Agropecuária da cidade. Como o ateliê de Zé Miguel está montado na saída para São Paulo, e recebe diariamente a visita de turistas, é dessa forma que o artesão divulga seu trabalho e revela que até visitantes italianos e americanos adquiriram as suas peças. Reconhecimento Por causa da arte diferente de Zé Miguel, o artesão até recebeu uma medalha de “Honra ao Mérito” da unidade do exército de Três Lagoas. O reconhecimento veio o ano passado, quando o escultor presenteou o local com uma estátua de um soldado com um fuzil que possui 1,90 de altura. O artesão também é o autor de um dos monumentos mais importantes da cidade, “O Pescador”. Localizado na Avenida Ranulpho Marques Leal, a estátua traz um pescador em tamanho natural, carregando um enorme peixe. A obra foi feita em 1994, e até hoje é um dos marcos de Três Lagoas. Antes de terminar nossa entrevista, Zé Miguel ainda deixou um recado de incentivo para os artesãos, “A pessoa tem que ter perseverança, e ter na consciência que sempre ele terá que corrigir alguma coisa, tem sempre o que melhorar, não existe a obra perfeita, e admitir também a crítica das pessoas, porque as vezes, a pessoa vê algo que a gente não vê”, finaliza o artesão. Quem ainda não conhece o trabalho de Zé Miguel, vale à pena fazer uma visita e conhecer de perto as estátuas da fauna Sul-mato-grossense em tamanhos reais. O ateliê está localizado na Avenida Ranulpho Marques Leal, acesso para São Paulo, em Três Lagoas, e não tem como errar, pois logo na frente, o visitante já encontrará um simpático elefante e outros animais dando as boas vindas. Mais informações através do telefone (67) 3521-0641. Texto e Foto: Luciana Navarro

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