Entrevista | Midiamax | 03/03/2016 11h28

Regina Ferro

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Diretora Regional do Sesc-MS destaca o que o Estado pode esperar em relação a ampliação dos serviços oferecidos.

Desde sua concepção, o SESC (Serviço Social do Comércio) tornou-se um importante parceiro de qualquer administração municipal que abrigue uma das unidades da entidade, isso por conta da missão de promover-se a educação por meio da cultura, saúde e bem-estar, na perspectiva da melhoria da qualidade de vida das pessoas. Em Campo Grande, por exemplo, o SESC é referência em fomento cultural, seja por meio de atividades artísticas no contexto educacional como por meio de ações que promovem entretenimento. Para comentar as expectativas da entidade para 2016, a diretora regional do SESC-MS, Regina Ferro, concedeu entrevista ao Jornal Midiamax, no SESC Morada dos Bais, local cuja estrutura e concepção foi totalmente reformulada pela entidade após convênio com a Prefeitura Municipal de Campo Grande, em 2015. Na entrevista, Ferro destaca o que o Estado pode esperar em relação a ampliação dos serviços oferecidos, sobretudo no campo cultural.

Confira.

O ano de 2015 foi de desafios para a cidade, circulou pouco dinheiro no comércio. Mesmo assim o SESC de Mato Grosso do Sul fez investimentos, convênios e ampliação de serviços. Esse ritmo será impresso também em 2016?

Principalmente nas áreas de cultura, a gestão é extremamente importante, que são áreas que não se tem um retorno. Mas, em 2015 o SESC não sofreu impacto muito grande, ainda, na receita. A consequência da crise está chegando agora. E mesmo assim, a gente está sempre de olho, organizando e planejando. Até 2012 nós tínhamos cinco unidades em Mato Grosso do Sul. Atualmente, temos dez. E temos a perspectiva de que este ano a gente feche com 12 unidades. A maioria delas são na capital, que é onde mais se contribui ao SESC, e aqui temos investido na melhoria das instalações. Tem uma unidade exclusiva de saúde, 12 consultórios odontológicos, todo o serviço de odontologia a preço extremamente interessante. Na Avenida Afonso Pena reinauguramos o restaurante, demos uma repaginada, climatizamos o ambiente, trocamos o piso da academia... Estamos com uma constante de melhorias lá. Quer dizer, estamos numa crescente de expansão, mas também de melhorias das unidades já existente. Em abril, vamos abrir uma nova unidade em Aquidauana, cuja maioria das ações serão voltadas para atividade física. Aquidauana já é uma cidade atrativa para praticantes de esporte de fim de semana, de repente podemos fazer um circuito entre Campo Grande e lá. Enfim, esta é mais uma devolução do SESC para a população.

Um dos marcos de 2015 foi o convênio com a Prefeitura Municipal de Campo Grande, que culminou na Morada dos Bais como um importante equipamento cultural da cidade...

Sim. Assumir a gestão da Morada dos Bais, inclusive, fez com que a gente redimensionasse todo o recurso disponível, fazendo com que a gente tirasse um pouquinho de cada lugar. Consideramos que esse espaço é extremamente importante para o público sul-mato-grossense. É um lugar que tem uma história, que tem uma razão de existir e que é um ponto de encontro. Então, fazer neste espaço um resgate da cultura sul-mato-grossense para que nós possamos passar a usufruir dessa cultura foi importante.

Esse investimento foi satisfatório?

Sem dúvidas. Eu vejo assim: hoje, que nós estamos aqui há quase oito meses, com bandas todas as sextas-feiras, a gente percebe o quanto as pessoas que tocam aqui são desconhecidas, ainda, do público sul-mato-grossense. E elas são daqui, são de raiz. Então, proporcionar esse encontro é muito ímpar, tanto para o SESC como para o cidadão que por aqui passa. Inclusive, recebemos aqui muitos turistas. Estrangeiros, em menor quantidade, mas recebemos, também. Tanto é que estamos investindo na informação numa segunda língua.

Que novidades podemos esperar para o SESC Morada dos Bais?

Estamos ampliando o museu da Lídia Bais, que era apenas um quarto. Nós adquirimos as obras da família, peças pessoais, que contam a história da artista, temos até uns manuscritos que ela rascunhava parte da vida, temos diários em que ela descrevia o início das obras... Tudo isso está proporcionando ao SESC montar uma ampliação do museu. Nós vamos ampliar o quarto, construir uma sala e construir, ainda, um ateliê. É uma casa que não é muito grande, mas que ficará ocupada com o museu da Lídia, que acho ser o ponto alto.

Todo esse investimento aqui é um indicativo de que o convênio com a Prefeitura será renovado?

Estamos negociando. Existe interesse do SESC e a da Prefeitura. Estamos discutindo uma forma, cláusulas, até porque é uma nova gestão municipal durante a renovação. Estamos exatamente no momento da discussão, já que o convênio vence no mês que vem. A expectativa é boa, é pela renovação.

Ano passado houve algumas resistências quanto a assinatura deste convênio, por parte de vereadores, de movimentos culturais, que criticavam um possível aparelhamento de equipamentos culturais públicos. Qual sua leitura sobre isso?

Ninguém ama aquilo que não conhece. Entendo a resistência ocorrida, mas aos poucos os artistas foram sendo acolhidos no espaço. Acredito que esse incômodo foi se diluindo através do tempo, até porque o objetivo do SESC é promover acesso, trazer conservação. Esta casa, hoje, é conservada. Se você olhar o espaço onde nós estamos não tem um prego na parede. Nós tivemos que usar a criatividade para que isso não ocorresse, até porque é proibido em bens tombados. Aqui temos armários, totens, coisas que não ferem a instalação. E antes havia danos na parede. Tínhamos adesivagem no piso de madeira tombado... Quer dizer, acho que, apesar de estar aberto à população e disso provocar um pouco de impacto, temos o cuidado de preservação. E todo movimento que fazemos na casa é para fora e para o fundo, que são os espetáculos, o shows, o cinema...

A senhora mencionou uma política pela valorização dos artistas locais. Ano passado houve imbróglio com os cachês dos artistas contratados para se apresentarem aqui. O que aconteceu naquela ocasião?

Foi um mal-entendido, um problema de comunicação, mesmo. A gente nunca pagou um cachê de miséria, tanto é que as pessoas continuam vindo e tocando. Fizemos reuniões com o sindicato dos músicos, combinamos a forma da apresentação... O artista espera do SESC que seja tratado como tal. É diferente quando ele vai tocar, por exemplo, num restaurante, num bar. Ali o som dele é minimizado, para não atrapalhar o ambiente. Aqui, não. Ele vem para um espetáculo, para se apresentar. E nós temos a expectativa de que ele se prepare para isso. Aqui o som é alto, a comida não é servida na mesa, não briga pela atenção do público com o artista. Tudo isso foi conversado com a própria categoria, por meio do Sindicato dos Músicos. Não temos uma tabela de cachês, negociamos para ser bom para todos, porque o fato de também pagar um valor muito alto pode inviabilizar o negócio. Acredito que construímos um relação que é importante tanto para o artista como para o SESC, porque conseguimos manter as contratações, os artistas voltam.

No caso do convênio da Prefeitura com o SESC em relação ao Horto Florestal, por que ele foi interrompido?

Na verdade, ali a gente fazia parte daquele projeto de conservação de praças, o Propam (Programa de Parceria Municipal). Mas precisamos do recurso da manutenção para investir em favor do comerciário. Tanto é que temos ampliado bastante as unidades e dado condições de trabalho, como já mencionei. E ali não era uma unidade do SESC. Se lá passasse a ser um espaço de atividades físicas a céu aberto, ponto de encontro de idosos, enfim, se ele fosse estruturado desta forma, aí haveria uma outra forma de ver aquele espaço. É um assunto que pode até voltar a ser discutido, já que o espaço é tombado, tem história, são elementos que tem a ver com o que o SESC defende, é contemplado pela nossa missão. O SESC faz isso, nós investimos os recursos na perspectiva de educar para a conquista da qualidade de vida. Se a gente adota um espaço assim, do nada, a gente não cumpre a missão.

O que pode ser adiantado sobre o antigo Cine Campo Grande, da Rua 15 de novembro? Será um Cine SESC?

Nós adquirimos aquele espaço, mas não na perspectiva de fazer mais um cinema. A cidade é bem servida de cinemas comerciais e a proposta do SESC é exibir filmes culturais, que têm um público menor. O espaço da Morada dos Bais comporta bem esse segmento: temos uma sala de projeção e temos exibições de filme de classificação indicativa livre no ambiente externo, a céu aberto. No espaço da 15 de Novembro, haverá, de fato, uma sala para isso, mas a grande maioria dele será um teatro, com nome SESC Cultura.

Por que um teatro?

Campo Grande é uma cidade que precisa de um equipamento de cultura do porte de um teatro, que tenha uma coxia, que tenha uma caixa cênica generosa. A gente pensa que qualquer lugar que tenha cadeiras inclinadas e um palco lá na frente já é um teatro. O que temos em Campo Grande são auditórios, porque um teatro precisa agregar espaços para cenários. Veja que o SESC recebe peças pelo Palco Giratório, que é o maior projeto da América Latina de itinerância em dramaturgia. Mas, nem sempre a gente consegue escolher, numa curadoria, peças que requerem muito do palco. Ali no Teatro do SESC Horto, temos uma boa iluminação, uma boa estrutura, até, mas não uma boa caixa cênica. Se o espetáculo tem três cenários, o espaço já não comporta bem.

Qual a previsão de inauguração do espaço?

Estamos trabalhando para que ele seja entregue já em 2017. Acabamos de ter a aprovação da GDU (Guia de Diretrizes Urbanísticas) e agora nosso arquiteto vai trabalhar mais no projeto. Há, ainda, todas as instâncias de aprovação: Prefeitura, Corpo de Bombeiros, projetos complementares de iluminação, sonorização, hidráulico, elétrico, proteção contra incêndios... O projeto não está parado, mas é que esta parte a gente não vê. Se a obra começar até o fim do ano, teremos cerca de 12 meses de construção, então o espaço seria inaugurado no máximo no início de 2018.

Há outros projetos do SESC, voltados para educação, inclusive por meio das artes, que são bem sucedidos.

Sim. Na missão do SESC, educação permeia tudo. Quando a gente faz uma apresentação cultural, sempre temos uma discussão, um debate. Temos essa forma de ver as coisas com maior amplitude. Considerando que 90% do que fazemos é voltado para a educação, a gente trabalha com isso tanto na área da saúde, da cultura e da educação regular. Atualmente, temos duas escolas regulares no Estado. Uma fica no Horto, com cerca de 1.400 alunos, e a outra em Três Lagoas. No bairro Lageado, uma das regiões mais populosas da cidade, temos uma escola de arte. Lá não se faz apresentação artística, mas desenvolvimento de cursos da área de artes, como música, dança, canto, percussão, violão, três tipos de flauta. Quer dizer, é um espaço de educação para cultura que faz uma diferença imensa. Toda criança que vai para lá está matriculada numa escola regular. Temos por cobrança, por condição de estar lá, a melhoria do desempenho dela na escola. Isso tem mudado significativamente a realidade dessas crianças, que têm pouco acesso a esse tipo de formação. Além disso, a arte promove desenvolvimento da criatividade, da concentração... Além disso, temos professores muito bons, que fazem a diferença àquela população. E mesmo sem pagar nada, as crianças ainda ganham os instrumentos para treinarem em casa. E isso dá um dinamismo, um gás, que favorece a permanência deles no projeto.

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