Entrevista | Da Redação/Com Danilo Galvão e Daniel Campos | 26/04/2013 13h51

Os versos de Rafael Belo

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Os versos de Rafael Belo

Jornalista de formação e poeta de coração. Rafael Belo é aquela pessoa que rabisca seus versos desde criança. Sua inspiração, como qualquer bom escritor, não seria nada melhor e nada mais concreto que a vida, que mesmo que destoa , nos faz encontrar significação nos detalhes. Seja no olhar perdido de um sonhador, ou, na janela aberta que deixamos a cada passo que damos.

Em entrevista ao Ensaio geral, Belo fala sobre seu trabalho e vida.

Ensaio Geral:Como a poesia entrou na sua vida ?

Rafael Belo: Diz a lenda que no “prézinho” eu já praticava versos. Mas conscientemente, minha produção começou nos primeiros anos do ensino fundamental, onde escrevia versos nos cadernos das meninas. Depois foram nas capas dos meus cadernos e então passei para folhas A4. Por ser de uma família espalhada pelos quatro cantos do país, sempre tive acesso a história de toda parte e agucei meus sentidos. Além disso, até o início do chamado jovem adulto sempre mudei muito e aprendi a observar e me desapegar facilmente. Era muita informação, e como assíduo leitor desde que aprendi a ler e um cinéfilo, os horizontes sempre foram expansivos, tinha de extrapolar e a escrita me pareceu a mais coerente.

E.G.: Qual é o estilo, a essência dos textos do Rafael Belo ?
R.B.: Meu estilo é cotidiano e muda conforme a leitura que estou fazendo e os momentos. Mas a essência é a Liberdade e nossa capacidade de expandir nos limita ao além. Meu estilo é imagético e rítmico. Gosto da sonoridade  e a maneira que, até poesias aparentemente complexas, penetram na pele e na alma de quem lê. É algo que a mente rumina e, por   proximidade e apropriação, acha um próprio significado para aquele sentimento versado.

E.G.: Você vê o seu trabalho em evolução, como é a sua produção ?
R.B.: Sim. Principalmente porque minha leitura é incessante e, tirando leituras falsas de filosofia( lê-se livros de autoajuda) leio todos os gêneros e procuro intercalar de seis em seis livros os tipos de leitura. Brasileira, ficção, romance, terror, fantasia, biografias... Na faculdade, cada mês eu preenchia um bloquinho diferente no último ano, mudando muito de mês a mês e procurando manter a essência e ver a reação de quem lia.  Em 2001, meu último ano de três em Vilhema, Rondônia, tive a chance de publicação de 51 poesias. Tinha desenhado a capa, digitalizado... Tudo ideia de uma professora de literatura que teve a paciência de separá-las. Por curvas da vida acabei mudando no ano posterior e iniciei o curso de Jornalismo. Antes do meu casamento no ano passado, separei imagens e textos do meu blog “Olhares do Avesso” e minha mãe levou até um primo nosso, padrinho do meu casamento, para ver a possibilidade de publicação. Passou pela academia maçônica de letras  e agora está à espera na academia sul-mato-grossense de letras. Em 2008 decidi parar de postar no Flogs, endereço que iniciei na internet com a poesia nascida das fotos que tirava. Este comecei em 2004. A proposta era diferente. As fotos seriam poesia referentes aos versos, minicontos e crônicas que postava e que nomeei de tríade literária. Somariam em sua semiótica como um registro a parte, mas que dialogariam com as tríades. Comecei postando freneticamente e percebi que não seria acompanhado pelos possíveis leitores. Passei a postar três vezes por semana com uma temática aleatória a cada sete dias. Mais recentemente passei a gravar e com uma música de fundo dava acessibilidade aos leitores. Porém, com o tempo muito dividido não consegui retomar a ideia. Hoje limito minha produção. Já cheguei a ter,só de poesias, mais de 300 mensais. Hoje. E limito a uma por semana no blog e duas diárias no Facebook. 

E.G: Quais são as suas influências ?
R.B.: Inicialmente a vida, as pessoas e todo o contexto dinâmico de mudanças e viagens que fazem parte de mim. Mas para frente já no meio do curso de Jornalismo decidi que já tinha uma base própria formada e poderia ler poetas consagrados. Gosto de poucos. Todos os heterônimos de Fernando Pessoa. Augusto dos Anjos, Leminsk, Carpinejar, Manoel de Barros e Clarice.

E.G.: Existe uma dificuldade para a divulgação e publicação de seus trabalhos ou a internet é um meio suficiente ?
R.B.: A arte sempre tem dificuldade de ser quem é. Há uma desinformação imensa aonde é dito que a internet acabou com a leitura física. Física de pegar, tocar, sentir mesmo o livro. É um enorme inverdade. O movimento é inverso. Com tantos blogs e sites de resenhas, os sorteios de livros e lançamento são inúmeros e nunca se leu tanto e se teve tanto acesso ao livro. Porém, não é suficiente se por alguns desvio de navegação o escritor/poeta não cair nas graças de uns 15 minutos de visualizações instantâneas no YouTube. É preciso todo uma estratégia de marketing bem elaborada para que a divulgação seja correta e crie um publico e assim crie- se ondas incessantes de leitores. Creio que falam olheiros na rede virtual. Tem um nobre fã de Arari no Maranhão, morador de São Paulo, Capital, chamado José Maria. Ele tem muitos seguidores e já postou no próprio blog material meu. Apesar da honra, não houve retorno no meu blog e nem nós comentário no dele. Por mais que ele tenha postados links, falado do autor e todos os créditos possíveis, atribuíam a ele o material.

E.G.: Qual impacto você procura gerar no leitor com a sua obra ?
R.B.: Percepção de si, do seu lugar e do mundo. Despertar todos seus sentidos e mais aquela infestação de pulgas atrás da orelha. Gosto pela leitura e até incentivo a escrita. Além disso, aquele sentimento de ter sido escrito para ele aquelas palavras, aqueles versos.

Entre o olhar e a janela
                 Rafael Belo

Clareou chuva no ritmo batente do chão
cadente da hipnose do vão da mente do raiou
encoberto por outro dia que nublou carente
da malevolente fibra maliciosa da dissimulação

sem cor, sem definição de mau ou bom
apenas uma ação perdida de atenção
na líquida base da direção
aonde pressiona o batente móvel sempre nos cantos

onde é imóvel o chovendo na lembrança
marcada na distância entre o olhar e a janela.

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