Entrevista | Da redação | 28/04/2016 14h49

Luiz André Cherubini

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Diretor do Grupo Sobrevento, Luiz André Cherubini esteve em Campo Grande com o espetáculo “Sala de Estar” e lotou o Marco.

O espetáculo “Sala de Estar” atraiu cerca de cem pessoas ao Marco (Museu de Arte Contemporânea) na noite do dia 26 de abril, que assistiram a uma peça intimista cujo principal tema foi a fragilidade humana nas diversas situações que cada um passa em sua vida, seja nas relações amorosas, familiares e a mais complexa delas: a relação consigo mesmo, bem como dos abusos sofridos.

O grupo paulista Sobrevento, comemora 30 anos de existência, com foco no teatro de objetos. A companhia que já passou por Ponta Porã e está em Campo Grande para mais duas apresentações hoje e amanhã com a peça “Só”.

O grupo foi contemplado com Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz/2015 e recebeu o apoio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul.

Um cenário carregado de tons fortes, onde os objetos se tornavam o centro das atenções por estarem impregnados de história dos seis personagens que interpretaram um monólogo cada. As esquetes aconteciam de forma itinerante, dando dinamicidade na peça. Outro ponto a se destacar foi a interação dos atores e atrizes com o público dando um tom mais informal ao espetáculo.

Confira a seguir um bate-papo com diretor do Grupo Sobrevento, Luiz André Cherubini.

Qual é o sucesso da longevidade do Sobrevento?

Olha, eu acho que nós somos um grupo que vive realmente de um fazer diário cotidiano. Então não é a construção de um espetáculo de um dia, mas são espetáculos que ficam em repertório, então eles se mantêm. Até hoje nós fazemos um espetáculo cuja primeira parte foi feita em 1986. O outro espetáculo de 19991, a gente fez a semana passada, então vamos fazendo espetáculos mas eles não vão morrendo e mantendo esse repertório nós conseguimos viajar, participar de festivais, por exemplo um festival da Espanha que nos viu há sete anos, nos chama novamente, por que o espetáculo continua vivo. Há solidez e constância. A nossa relação com o teatro é de casamento, há uma constância, o dia a dia, há as alegrias, dores, brigas e sobretudo o que nos mantêm esse casamento é o amor pela arte, pelo teatro. Temos uma crença na capacidade expressiva do teatro na importância da falta de importância dele. A riqueza do teatro está na sua efemeridade, fragilidade e na sua sutileza e aí é que está a beleza do teatro e não constância, não na força dele e não do impacto dele.

A peça “Sala de Estar” trata de forma sutil vários temas, qual deles você destacaria?

Sobretudo a fragilidade. A fragilidade do ser humano, das pessoas, porque eu acho que nós negamos muitas vezes essa fragilidade e isso nunca traz coisas boas, quando a gente acha é valente, que manda, quando a gente acha que está certo das coisas, a gente precisa reconhecer nossa fragilidade e a nossa pequenez. É isso que o espetáculo fala, do frágil que nós somos.

O espetáculo está sempre em construção?

Sim, não é possível você manter um espetáculo vivo se só repeti-lo. É preciso estar sempre mudando, é preciso dizer coisas daquilo que você é hoje. O teatro guarda um mistério. Por isso que nunca um espetáculo é igual. Esse espetáculo é mantido pelas mudanças que nós sofremos. É isso que mantêm vivo o teatro por muito tempo. Esse espetáculo foi construído das histórias, dos segredos de cada um dos atores. Mas a força dele está no público, dentro do público, quando o público se reconhece na sua própria fragilidade. Esse espetáculo de teatro de objetos que deflagra várias histórias que eles guardam. Contamos a história de cada objeto, expondo-o, contamos a história por causas dos objetos.

Essa é uma companhia que já percorreu vários países, como é a experiência de apresentar um espetáculo no exterior?

Olha, é isso que nos faz voltar muitas vezes a Campo Grande, a Mato Grosso do Sul, porque gostamos de falar para o nosso público. É muito bom poder viajar, conhecer novas culturas, muito enriquecedor isso, conhecer outras coisas. Mas o teatro forte é aquele que você se entende verdadeiramente com seu público. Todo tetro é um encontro, mas quando esse teatro acontece num país estrangeiro, numa vivência diferente da nossa, de outras idiossincrasias, de outras maneiras de ver o mundo, outras crenças, acaba que você não tem um controle do que está acontecendo. Então já aconteceu conosco de levarmos um espetáculo para a Irlanda e fazer um sucesso enorme e três dias depois estar na escócia, que é ao lado da Irlanda, que parece ser o mesmo povo, mas não é, e não termos muito sucesso porque o senso de humor nesses países são diferentes. Aqui no Brasil já estamos acostumados com aplausos efusivos, lá fora é diferente.

Como é comemorar 30 anos do Grupo Sobrevendo aqui em Campo Grande?

É um orgulho muito grande, porque a gente tem uma afinidade com a cultura sul-mato-grossense. A primeira coisa que a gente fez quando chegamos foi comprarmos tereré. E também temos uma afinidade muito grande com artistas, os trabalhadores da cultura de Campo Grande. Nós conhecemos quase todos os artistas de teatro daqui porque nós fizemos muitas oficinas, intercâmbios, e aqui nos sentimos em casa. E nada melhor do que celebramos em nossa própria casa.

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