Entrevista | Estevan Oelke | 22/10/2015 10h08

Eduardo Alcântara

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Eduardo Alcântara

Formado em Artes Visuais pelo Instituto de Ensino Superior da Fundação Lowtons de Educação e Cultura (IESFUNLEC), o ex-aluno da Casa de Ensaio, Eduardo Alcântara tem 25 anos e contribui com a instituição doando seu conhecimento e levando brincadeiras para os jovens e crianças. 

Professor da Rede Municipal de Ensino (Reme) no período matutino, a tarde doa seu tempo para a Organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP) Casa de Ensaio. Desde os 11 anos, a organização faz parte do dia a dia do artista, que a partir de 2008 começou a contribuir em diversas áreas como brincante de jogos tradicionais, designer gráfico, videomaker, produtor, iluminador cênico e coordenador de registro e memória. 

Eduardo se envolve com a cultura até em suas horas vagas, onde além de praticar exercícios ele assiste seriados, vai ao teatro, cinema e museus. Em entrevista, o artista fala sobre a importância de seu trabalho e as dificuldades em período de crise. 

Ensaio Geral - Quando surgiu o interesse pela arte, e o que acha que precisar mudar no ramo artístico de MS?

Eduardo Alcântara - Posso dizer que tenho duas grandes responsáveis pelo meu interesse em arte. A primeira grande incentivadora foi minha mãe que também é professora e que desde muito cedo já me levava para ver peças de teatro onde eu saía fascinado. Quando completei seis anos de idade ela finalmente me matriculou em um curso. Passei então a atuar em peças amadoras e na escola. Alguns anos depois tive a oportunidade de conhecer a Casa de Ensaio, fiz a seleção e consegui ingressar no projeto que na época só funcionava aos finais de semana. Daí em diante meu horizonte cultural foi se abrindo cada vez mais e grande parte do meu conhecimento artístico e paixão pela arte foram adquiridos por meio das experiências vividas nesses anos todos em contato com a organização.

Em nosso Estado existem diversos grupos, organizações e artistas com anos de história, trabalho e luta. O que percebo é que mesmo com a luta incansável dos artistas para serem reconhecidos por seu trabalho de nada adianta se não tiver recurso financeiro, tanto público, como privado. Nesses últimos anos praticamente nada aconteceu para a cultura do MS, os editais foram cancelados, a obra do centro de belas artes foi abandonada e agora essa crise nacional. Precisamos de mais editais, espaços públicos e incentivos para a arte, principalmente, para os projetos de teatro infantil e social que trabalham com crianças e adolescentes, pois ainda é muito difícil de ser reconhecido e conseguir patrocínios para esses segmentos.

EG - Como já foi aluno e hoje participa do projeto, qual é a importância de trabalhar com crianças e adolescentes através de brincadeiras, como o trabalho que faz na Casa de Ensaio?

Eduardo - Nós levamos a brincadeira na Casa de Ensaio muito a sério. Ela faz parte da nossa metodologia e tudo começa e termina na brincadeira. A importância desse trabalho é que além de proporcionar o resgate da infância das crianças por meio dos jogos e músicas tradicionais, nós também utilizamos as brincadeiras para sensibilizar e desenvolver neles o sentimento de jogar para se divertir e não para ganhar, aceitar perder, além de coletividade e cooperação, pois os jogos que vivenciamos não são competitivos e sim cooperativos. 

Assim eles aprendem que ganhar e perder faz parte e que existem regras que precisamos respeitar no jogo e na vida. Acreditamos que com essas experiências, futuramente, nossos alunos saberão lidar com mais preparo com as diversas questões que possam surgir na vida pessoal e profissional deles.

EG - Por que escolheu essa profissão, e o que mais te satisfaz nela?

Eduardo - Eu sempre digo que na verdade não fui eu que escolhi a minha profissão, foi ela que me escolheu. Desde a primeira vez que subi em um palco eu soube que era isso que eu queria fazer pelo resto da minha vida. Ora, em cena, ora nos bastidores, mas sempre estou em contato com todo esse universo mágico. 

Eu trabalho com o segmento do teatro social com foco na arte transformação, que é o trabalho que desenvolvemos na Casa de Ensaio. Viver do social é uma escolha que tem momentos tristes e difíceis, mas também é regado de muitos sorrisos, afeto e união. Em todos esses anos eu vi muita gente saindo do casulo e virando borboleta. E eu também me transformo todos os dias em contato com as crianças e não tem satisfação maior que ver o sorriso delas a cada final de espetáculo, lindas e felizes, sendo aplaudidas de pé. Nessas horas todo o esforço vale a pena e me dá forças para continuar trabalhando nesse segmento.

EG - Qual seus objetivos e próximos passos para contribuir com a cultura no estado?

Eduardo - Além de continuar trabalhando e lutando para que a Casa de Ensaio consiga sobreviver em meio às pedras que surgem no meio do caminho e para que mais crianças e adolescentes possam ter a oportunidade que oferecemos, esse ano consegui realizar um sonho antigo que era de oferecer uma oficina para compartilhar a pesquisa que desenvolvo alguns anos com as brincadeiras cantadas e jogos tradicionais da infância. 

Essa oficina é destinada para acadêmicos de educação, professores e profissionais interessados e tem como foco proporcionar uma vivência prática dos jogos tradicionais para que os professores aumentem e reciclem seu repertório e possam cada vez mais utilizar a brincadeira nas suas práticas de ensino em seus locais de trabalho. Pretendo realizar sempre a oficina e futuramente criar um grupo de pesquisa com outras pessoas que se interessam por essa área.

EG - Como o seu trabalho é afetado pela crise financeira nacional? E no que isso pode afetar as crianças?

Eduardo - Nós somos uma OSCIP e sobrevivemos de editais, patrocínios e doações. Se sem crise é difícil conseguir empresários que queiram investir em trabalhos sociais com arte, imagina com a crise toda que nosso país está passando? Em 19 anos de existência a Casa de Ensaio manteve suas atividades sem interrupção, mas esse ano com a crise a partir de Setembro sem patrocínio algum, infelizmente, tivemos que suspender as aulas de jogos tradicionais, jogos teatrais, música (canto e percussão), artes visuais, dança, audiovisual, capoeira, literatura e outras de parte dos alunos do projeto e também foi preciso reduzir os membros da equipe. 

Atualmente todas as pessoas que trabalham na Casa de Ensaio são voluntárias e desenvolvem eventos e atividades para contribuir com a sustentabilidade da organização. Anualmente oferecemos as oficinas gratuitamente para 140 crianças e adolescentes e sem patrocínio não conseguimos desenvolver nossas atividades e atender os alunos com a qualidade que eles merecem. Mas nossa equipe é formada por sonhadores que nunca deixam de acreditar, lutar e trabalhar. Esperamos o quanto antes sair dessa crise e retomar 100% as atividades com as crianças. 

Oficina - A OSCIP Casa de Ensaio realiza no próximo domingo (25) a oficina “Jogos tradicionais e brincadeiras cantadas”, a fim de apresentar e resgatar brincadeiras antigas. Eduardo Alcântara ministrará o curso e as vagas são limitadas. As inscrições devem ser feitas através do e-mail edualcantara.artes@gmail.com. Parte da renda arrecadada será destinada à organização, alcançando as crianças e adolescentes em vulnerabilidade social e cultural participantes do projeto.

A oficina acontece das 14h às 17h e o investimento para a participação é de R$ 35, incluindo certificado de 10h/aula. A Casa de Ensaio fica localizada na Rua Visconde de Taunay, nº 203, esq. com Av. Afonso Pena, no bairro Amambaí. 

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