Ensaio | Jeozadaque | 21/06/2011 13h36

Artista que percorreu nove países diz que petroglifos do Pantanal são singulares

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Na visão do artista plástico Santiago Plata, os petroglifos pantaneiros possuem uma singularidade que os tornam especiais, principalmente para a técnica por ele criada, na qual o relevo das inscrições é parte importante para um bom resultado. "Os petroglifos do Pantanal são os mais profundos que vi durante todo meu percurso que envolve nove países. Acredito que isso se deve à qualidade da rocha que tem aqui, chamada de hematita, que é aquela de onde se retira o minério de ferro. Dentro do nível de dureza, ela tem o número 9, considerando que o número 10 é o máximo de dureza da rocha, então isso obriga que os artistas que realizaram esses desenhos tivessem que trabalhar a rocha com maior profundidade, o que é bom para a técnica que desenvolvemos", comenta. Ele orienta os participantes que escolhem dentro da variedade de desenhos os que mais se identificam. Com um pedaço de TNT, carbono e grafite, eles fazem uma espécie de decalque do relevo. Um trabalho que parece simples, mas exige sensibilidade para o registro mais fiel possível da inscrição rupestre. Para finalizar e arrematar o "decalque", semente de abacate, que possui uma substância que impregna e ajuda a fixar a imagem no tecido. Ritual ou marca de território? Dentre as muitas figuras "desenhadas" se repetem formas circulares com ou sem raios internos. Também nota-se a presença de sulcos e pegadas representando alguma forma animal de três dedos. Em grande parte delas, uma linha as une, gerando uma possível interpretação do simbolismo do ambiente pantaneiro no qual o rio une essas representações. Em sua dissertação de mestrado pela Unisinos, intitulada "Lajedos com Gravuras na região de Corumbá", Maribeli Girelli explica que os petroglifos encontrados em Corumbá não são fenômenos isolados e os atribui a grupos que habitavam regiões próximas aos rios, porém os seus significados ainda são vagos. "(...) Fazem parte de um horizonte estilístico que se espalha ao menos pela borda meridional da bacia amazônica. Ele parece ligado a grupos ceramistas que vivem na proximidade da água de grandes rios. As tradições ceramistas presentes nas diversas áreas não são as mesmas. As populações humanas provavelmente também não. Com isso, o significado dessas gravuras, que supomos partilhado na identidade dos diversos grupos, e sua incorporação diferenciada em cada um, fica ainda uma grande incógnita", afirma. Entretanto, sugere que as inscrições não foram feitas ao mero acaso. Pela extensão que ocupam os grafismos e seu virtuoso acabamento, eles teriam um propósito maior. "(...) Não se trata de algo aleatório e ocasional, mas intencional e importante, necessariamente coletivo: os grafismos e sua organização devem ter um sentido social, provavelmente ligados a mitos e base de rituais. Como estão em superfícies abertas, com grande visibilidade, acessíveis e possibilitando movimentação de grupos humanos numerosos, conjeturamos que estariam ligados a rituais coletivos, envolvendo a comunidade inteira. (...) A sua posição limítrofe com outro forte grupo ceramista, o Tupiguarani, faz conjeturar que também teriam caráter de afirmação de fronteira étnica", propõe. Da Redação

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