Edital | Jeozadaque | 26/09/2011 12h27

Parada Gay: a apoteose para quem saiu do armário é curtida também por heteros

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A cidade nunca é tão colorida, nem a praça do Rádio Clube tão animada. A música, o ritmo e a liberdade gritavam um sonoro nao ao preconceito. A 10ª edição da Parada Gay é a apoteose para quem se assume e veste a camisa da diversidade sexual. No meio de tanta animação, Lívia de Castro, 22 anos, se apresenta caracterizada há pelo menos cinco anos. Ela dança com uma performance invejável, misto de carisma e estilo. “É difícil para os comuns. Quem está disposto a passar por tanta dificuldade, até que essa parte foi fácil”, diz sobre o fato de se assumir para a família. Moradora de Campo Grande há um ano e meio, ela diz que veio do “babado”. “Eu vim aqui só para dar uma palhinha, meu amor, São Paulo é do babado”, comenta sobre a Parada Gay paulista. O amigo logo chega e se apresenta. É Paulinho Medeiros, 21 anos, decorador. Em Campo Grande há pouco tempo ele diz que prefere a Cidade Morena à qualquer lugar. “Aqui é melhor em relação ao preconceito, respeito. Lá em São Paulo, por exemplo, ninguém é amigo de ninguém. Todo mundo sobrevive, mas ninguém curte”, diz. O fato de dar a cara à tapa e comemorar as vitórias já conquistadas é o que enche a avenida de orgulho. Orgulho de ser gay. O casal de lésbicas comemora a união estável pela primeira vez na Parada. Elyana e Sandra se conheceram pela internet, depois de casamentos heterossexuais malsucedidos. O preconceito teve de ser enfrentado cara a cara com pais e filha. As duas moram em Chapadão do Sul, cidade que, por ser do interior, ressalta ainda mais o preconceito. “Aqui é bem diferente e hoje é nosso dia. Pode pegar na mão, ficar a vontade, pelo menos aqui”, diz Sandra Ferreira Reis, a mais extrovertida entre elas. Casal se conheceu pela internet, depois de casamentos heterossexuais malsucedidos. O amor venceu preconceitos e uniu Belém a Chapadão do Sul. (Pedro Peralta) O casal mora junto há sete anos. Sandra é de Belém, no Pará, e Elyana é do interior de Mato Grosso do Sul. “Foi muito rápido, logo que eu me separei, nós assumimos e fomos morar juntas em Chapadão”, conta Elyana Parreira Silva. Quase ninguém da família delas aceitou de começo, mas elas afirmam que hoje, "graças a Deus", é mais tranquilo. “É bem diferente, para o homem é mais rápido. Mulher não, fica com vergonha da família, medo do que os outros vão pensar”, comenta Sandra. As duas expressam o maior significado do movimento. Vestir a camisa e bater no peito. Homossexualidade sem preconceitos. “É assim mesmo, eu vesti e eu estou aqui e é tudo de bom. Dane-se se o resto tem vergonha, medo. Se os filhos e a família aceitam, porque você vai ligar para as outras pessoas?”, impõe Sandra. O sentimento contagia também a família. A história de Rosângela é de quem está do outro lado. Mãe de um filho gay ela conta que já sofreu muito, principalmente pelo que o filho sofre. “Foi difícil para mim no começo. Agora eu aceito e dou todo apoio, meu filho é tudo para mim”, desabafa. O outro lado da história, mãe de gay não imaginava que o filho viesse à Parada. Há 3 anos ela vai e apoia. (Foto: Pedro Peralta) O apoio pode ser visto de longe. A felicidade da mãe em poder estar do lado do filho na luta contra o preconceito. “Jamais imaginaria que meu filho viesse aqui. Agora eu venho e já faz três anos”, completa. E ela não veio sozinha não. Trouxe uma das melhores amigas do filho e também a sobrinha. A pequenina Vitória tem apenas dois meses de vida. Mas se o respeito vem de berço, ela está mais do que na idade de aprender. “Eu acho que tem que trazer e ensinar desde pequenininha que não pode ter preconceito. A gente vem para apoiar e se divertir no meio deles”, conta a mãe Olga Ramires, de 37 anos. E criança foi o que não faltou na Parada. O movimento foi marcado pela presença em massa de famílias e também heterossexuais. Com apenas 12 anos, Bruna da Conceição para ter mais. Pela altura e firmeza com que defende a ideia. Ela conta que veio por curiosidade e pela primeira vez. “Não tenho muita convivência, mas também não tenho preconceito. Acho que precisa haver mais campanhas de conscientização, de igual para igual”, afirma. A curiosidade e o apoio foi o que motivou o casal Val e Elaine Corrêa. Heteros, eles defendem que a Parada também é lugar deles. “Tem hetero sim, como é o nosso caso. Temos amigos gays, familiares ainda não, pelo menos não revelaram”, brincam. A Parada da Diversidade também é lugar de hetero sim. O casal Val e Elaine estão aí de prova. (Foto: Pedro Peralta) O casal está há três anos em Campo Grande, veio do interior de São Paulo e à convite de um amigo, até a Praça do Rádio neste sábado. O que falta para acabar com o preconceito, ele, Val, responde logo de começo. “Aqui ainda está a minoria, o preconceito diminui por conta de movimentos como estes. Você conhece, entende e está envolvido”, considera Val. E a 10ª edição teve motivos de sobra para comemorar. Junto com o aniversário de uma década de movimento, Leonardo Costa, coordenador do Centrho (Centro de Referência em Direitos Humanos e Combate a Homofobia) explica que o motivo de tanta comemoração. “É a data de celebrar todas as conquistas que já aconteceram e também pela instituição do Conselho Estadual da Diversidade Sexual, o terceiro no país”, fala. “Nós estamos aqui para levar para a sociedade a demanda dos nossos direitos. Precisamos dos heteros, das famílias, que entrem nessa luta conosco”, finaliza. Da Redação/Com Campo Grande News

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