Oficina de dança contemporânea amplia o olhar e a consciência sobre o corpo
“Dança contemporânea é um pensamento, uma forma de olhar o corpo”. Assim o bailarino João Paulo Gross esclarecia suas jovens alunas na aula inaugural da Oficina “Estudos para o Corpo Contemporâneo”, no Studio Kadoshi Dance, durante o Festival de Inverno de Bonito. A aula da tarde desta segunda-feira (23.07) foi uma verdadeira viagem pela história da dança e um resgate da consciência corporal.
Gross iniciou com uma aula teórica sobre os vários estágios da dança na história da humanidade. “A dança é muito primitiva, falava muito desses impulsos internos da gente. Ela estava na cultura do homem ligada à religião, ao sagrado. Acreditava-se que o corpo se comunicava com um lugar ancestral”.
Depois, explicou Gross, ao longo do tempo, o corpo foi passando por transformações. “A dança surge como manifestação potente do corpo. A dança começa a ser hierarquizada e vai surgindo um jeito de ensinar, uma forma de fazer. Hoje o corpo é um organismo inteiramente vivo, em que a mente se conecta como um todo”.
Depois de falar um pouco sobre as várias vertentes da dança, como a moderna, pós-moderna, clássica, expressionista, impressionista, dança-teatro, ele chega ao tema da oficina, que é a dança contemporânea. “Aqui a gente não vai falar do tempo cronológico, mas do tempo de cada um, do ritmo interno, da respiração. Vamos trabalhar em cima de uma individualidade, uma criação para este lugar, este espaço, esta geografia. Esse corpo contemporâneo é potencializar o que é próprio de cada um, mostrar para as pessoas quem a gente é”.
A segunda parte da aula constituiu-se de uma série de exercícios em que se buscava a conscientização sobre as estruturas internas do corpo. “A gente tem que ter conhecimento, noção do que come, do que bebe, cuidar do nosso corpo, que é a nossa casa. A gente tem que saber se ouvir”.
João Paulo Gross ministra a oficina no Festival de Bonito a convite da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul. Ele participou da Semana Pra Dança 2017, e devido ao sucesso do seu trabalho, foi convidado para repetir a dose em Bonito neste ano. Ele é formado em Dança pela UFRJ, participou durante sete anos do grupo Quasar, em Goiânia, e desde 2016 tem seu próprio grupo, o Ateliê do Gesto, também em Goiânia. A proposta desta oficina em Bonito é “conversar um pouco sobre o corpo, olhar para ele com novas perspectivas, além de proporcionar a troca com pessoas de dança daqui e trazer informações sobre o corpo e consciência corporal”.
Para ele, o intercâmbio de experiências que o Festival proporciona é muito precioso para conhecer outras realidades e a riqueza artística do Brasil. “É um presente vir aqui e de alguma maneira colaborar. Eu aprendo muito, acho importante porque este eixo Rio-São Paulo é muito forte, muito contaminado; eu não tinha conhecimento da produção de dança em Mato Grosso do Sul, somos vizinhos e não nos conhecemos, mas conhecemos o que está mais longe. É muito importante essa troca, esse intercâmbio, a gente acaba conhecendo outras realidades. O Brasil é muito rico, te proporciona muitas experiências”.
A bailarina Bianca Martins, do Studio Kadoshi Dance, também participou da oficina, e disse que se sentiu honrada de algumas de suas alunas poderem participar. “É grandioso demais ter na nossa cidadezinha uma oficina tão espetacular. Nós às vezes temos que ir longe, pagar muito caro, e termos isso aqui, de graça, é um privilégio”.
A aluna Sara Martins, de 14 anos, mora em Jardim mas sempre vem para Bonito fazer alas de balé e jazz no Studio Kadoshi. “A dança para mim é uma forma de expressão, de mostrar meus sentimentos. Sempre encontrei na dança o que eu queria ser. Queria abrir novos horizontes para explorar meu corpo por meio da dança. Achei interessante a oficina, pois mostra outras maneiras para trabalhar outras partes do corpo”.
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