“Hérédité” apresenta nova forma de trabalhar a dança do ventre
A dança oriental árabe vista com um novo olhar, mais profundo, próximo aos nossos dias e às nossas experiências no mundo moderno. O espetáculo “Hérédité”, da Isa Yasmin Cia de Dança (MS) apresentou ao público presente na noite desta sexta-feira (19), na Associação de Moradores do Bairro Coophavilla II, durante a Semana Pra Dança, uma visão diferente, contemporânea, da dança do ventre. Foram corpos com experiência do movimento árabe, mas também de outros estilos.
“Hérédité” é um trabalho extremamente conceitual, que aborda as transformações dos processos vivenciais dos bailarinos da própria companhia, os sentimentos e a busca interna para o desenvolvimento de uma autonomia criativa. Conforme explica a diretora do espetáculo, Isa Yasmin, foi trabalhada a linguagem contemporânea e, para isso, feita uma pesquisa conceitual. “O trabalho reflete um conflito interno da Companhia, momentos fortes, processos que passamos juntos e daí fizemos este espetáculo”.
Os temas abordados se confundem com os processos que o ser humano vivencia ao nascer, com sua família. “O primeiro elemento que aparece são tecidos, que representam as placentas da mãe. As filhas querem continuar, mas tem a dor de partir, se desenvolver, crescer, ir em frente. A saia é o início da ruptura. Ela quer descartar a hereditariedade porque quer dar continuidade à vida. A vó passa para a mãe e esta para a filha, existe aquele amor que se transmite. A dança tribal fala da pressão do quotidiano, o mecânico, as asas é quando a mulher se liberta. [A coreografia com] véus wings representa um almoço em família, em que cada um tem sua vida. Depois da ruptura, vem o retorno. Você vai ter sempre suas raízes”.
Para a composição do espetáculo foi feita uma pesquisa sobre Bert Hellinger, psicoterapeuta alemão, e a Constelação Familiar, criada por ele. Mas mesmo com o embasamento teórico, Isa diz que o espetáculo é visceral. “Falamos de honra aos antepassados, por amor. A gente não apenas dança, sente nas vísceras. É doloroso e prazeroso. É tudo isso”.
As bailarinas demonstram essa paixão no palco e também com suas palavras, durante a entrevista. Cláudia Elias Junqueira está há quatro anos na Companhia e este é seu primeiro espetáculo. “A dança é o momento em que eu sou mulher, nesse quotidiano que a gente trabalha. Eu sou veterinária, e a dança traz o feminino novamente neste mundo em que temos que ser competitivas no trabalho. Resgata a sua essência”.
Ela começou por hobby e agora “é pela alma”. Um dos seus personagens no espetáculo, que dança com uma calça, está mostrando esse quotidiano. “Nesse momento a gente já rompeu o cordão umbilical, já nos libertamos e quando entra a saia tira o peso do dia-a-dia e leva embora. A primeira ruptura [do cordão umbilical] acontece até o momento em que a gente se vê na rotina. A libertação é quando se está certa daquilo que se está fazendo”.
Sua colega de cena, Roselene Silveira, dança há seis anos na Companhia. Ela tem 51 anos e nunca tinha feito nenhum tipo de dança antes. “Foi gratificante. Esqueci minha idade, o tempo, os preconceitos. É uma liberdade leve. Meus familiares têm orgulho por eu participar, eles me incentivam. Gosto muito da cena do leque. Ela fala da liberdade, leveza, suavidade do feminino, me faz bem. Eu amo ser mulher!”.
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