Dança | Da redação | 22/08/2016 08h42

Espetáculo “Matiilha” explora o olhar e as conexões humanas

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Olhares ameaçadores, toques agressivos, movimentos precisos, revezamento nas atuações. O espetáculo “Matiilha”, da Expressão de Rua, de Campo Grande, foi encenado na pista de skate do Parque das Nações Indígenas, na tarde de domingo (21), durante a Semana Pra Dança. As apresentações encerram nesta segunda-feira (22) com os espetáculos “Rivotril”, em Dourados, e “Entrenós”, em Campo Grande. A entrada é gratuita.

O grupo, formado por Irineu Ruach, Jackeline Mourão, Reginaldo Borges, Roger Pacheco e Thiago Mendes, representou bichos ferozes e ameaçadores, em que a disputa pelo espaço é apenas uma desculpa. Há um revezamento quase não consentido na posição de líder. A disputa pela liderança, quando muito acirrada, gera uma anarquia desesperada e também interessante.

Um dos criadores e diretor cênico do espetáculo, Marcos Mattos, explica que Matiilha na verdade são duas palavras, mati.ilha: mati significa pequeno e ilha é uma pequena ilha. “Eles dançam dentro de um quadrado, como o bando que sobrevive ao ambiente. É a luta pela liderança. O grupo, quando tem a matriarca, mulher, provoca uma conexão muito forte. O bando briga entre si mas ao mesmo tempo se protege”.

Marquinhos, como é conhecido, diz que tentou fazer a analogia homem-animal, presente no nosso dia-a-dia. “É um espetáculo que exige atenção, é encenado sempre em lugares alternativos. A gente experimenta em lugares fechados e abertos”.

Foram seis meses de trabalho coletivo em que todos os intérpretes participaram. “Eu fui mais um orientador, um provocador. No processo de criação, começamos pelos movimentos. A música veio como um complemento. Fizemos uma pesquisa do movimento junto com o Irineu [Ruach] depois lançamos um olhar para o trabalho, que cara tem esse trabalho. A ideia foi experimentar os movimentos e depois identificar do que se tratava”.

Expressão de rua

O grupo Expressão de Rua é oriundo do projeto social “Arte sim, violência não”, da Prefeitura de Campo Grande. O projeto teve um fim e Marcos Mattos decidiu continuar com o grupo, que já tem dez anos. Para ele, é fundamental a existência da Semana Pra Dança pelo fomento à produção local e integração com os grupos de fora.

“É um espaço para a discussão das políticas públicas. A tendência é ampliar, os grupos ocuparem os espaços da cidade e pensar não só em Campo Grande, mas em outros municípios, para fortalecer os artistas que existem em outras localidades”.

O bailarino Irineu Ruach, que assina a criação com Marcos Mattos, tem nove anos de dança e começou sua carreira em Dourados, onde morou de 2001 a 2008. Ele começou no Sesc Dourados com Street arte, “dança urbana com uma pegada mais comercial. A gente competia muito”.

Depois, foi para o contemporâneo e entrou para o Dançurbana, em 2009. Para ele, o espetáculo Matiilha é composto por várias camadas com estímulos diferentes. “Esse jogo do olhar demonstra a luta pela liderança, as entradas e saídas, a conexão do olhar e do jogo é uma composição ou disputa”. As referências são grupos da Europa e Rio de Janeiro, como a “Cia de Rua”, “Coletivo 605” e “Cia Membros”, além do próprio “Dançurbana”.

Hoje Irineu vive da dança, dá aulas, ministra cursos, é professor da Secretaria Municipal de Educação. “É o que paga minhas contas. Todos os empregos que eu tive antes eu perdi por causa da dança. Eu faltava para ir para um festival e quando voltava estavam as contas em cima da mesa. Disseram para mim que eu ainda não sei o quanto represento para a dança em Campo Grande. Eu acordo pensando em dança. A gente tem que correr atrás de projetos, editais, que hoje é o que paga o cachê dos bailarinos. Hoje me sinto realizado e feliz de verdade”.

A Semana Pra Dança será encerrada nesta segunda-feira (22) com os espetáculos “Rivotril”, de Dourados, e “Entrenós”, da Cia Verso, de Campo Grande, às 20 horas, no Teatro Prosa do Sesc Horto. A entrada é gratuita.

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