Circo | Jeozadaque | 05/04/2010 14h41

Nos Bastidores da Arte: Arlene Barboza Vilela

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Arlene Barboza Vilela é gerente de desenvolvimento de atividades artesanais na Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS). No mês de março, o núcleo coordenado por ela promoveu, em parceria com o Sebrae/MS, a Semana do Artesão de Campo Grande, evento que reuniu diversas atividades envolvendo o trabalhadores e admiradores do artesanato regional.

Em entrevista, Arlene conta ao Ensaio Geral detalhes sobre a programação e perspectivas para o futuro do setor do artesanato em MS.

Ensaio Geral: Como foi o processo de organização da Semana do Artesão?

Arlene: Nós iniciamos o projeto com reuniões para fazer o planejamento. Tivemos um encontro com o Sebrae, que é nosso grande parceiro já  há algum tempo nas ações do setor do artesanato no Estado. Planejamos juntos toda a programação da semana.

Ensaio Geral: Como foi a seleção dos eventos que integraram a programação?

Arlene: Após as reuniões, nós chegamos a conclusão que iríamos desenvolver um Workshop; nós acreditamos que o artesão precisa sempre se atualizar. Esse workshop foi no dia 16, na sede do Sebrae, com consultores que vieram de fora; um deles inclusive se formou na Alemanha, mora em São Paulo e veio propriamente pra falar de Tendências de Consumo para o Artesão.

Ensaio Geral: O público que compareceu atingiu o número esperado pela organização?

Arlene: Atingiu em média, tinham 50 artesãos.  Embora a gente tenha uma grande quantidade no estado, foi um bom número; foram aqueles artesãos com que gente vem trabalhando, que já tem um trabalho mais elaborado. Também tivemos mais dois consultores, um pra falar de estratégias de vendas e o outro sobre a potencialidade do mercado corporativo em MS. No dia 17, tivemos a Rodada de Negócios, que aconteceu no Mezanino da Fundação de Cultura no prédio do antigo fórum.

Ensaio Geral: Esse evento foi fechado para convidados...

Arlene: O evento foi fechado porque era para um grupo de artesãos que realmente tem condição de competir no mercado. Foram 23 artesãos e 20 lojistas, 10 de MS e 10 de outros estados, nas diversas áreas, no setor de moda, no setor de utilitário. A Rodada rendeu uma venda muito significativa, cerca de 84 mil reais e com perspectivas futuras bastante promissoras.

Ensaio Geral: E como foi a produção da Feira de Artesanato?

Arlene: A Feira de Artesanato aconteceu entre os dias 18 e 20 no hall de entrada do Sebrae, onde compareceram praticamente os mesmos artesãos. Eu estive lá e presenciei a vinda de uma compradora do Grupo Pão de Açúcar que veio com o objetivo de fazer negócio com esses artesãos, de conhecer os produtos para inserir na Rede Carrefour do Grupo Pão de Açúcar.

Ensaio Geral: Os artistas que apresentaram seus produtos na Exposição Temporária foram selecionados a partir de qual critério?

Arlene: A Exposição Temporária é uma parceria do Sebrae com a Fundação de Cultura, feita todo mês aqui na Casa do Artesão. A gente sempre dá oportunidade para um único município mostrar sua produção artesanal, mas neste mês, como é o mês do Dia do Artesão, eu optei por proporcionar chance aqueles artesãos que fazem parte de um Projeto do Sebrae chamado Comércio Brasil.

Ensaio Geral: Como funciona o projeto?

Arlene: O Comércio Brasil é um grupo de artesãos que já exportam, já tem um trabalho pronto para o mercado. A intenção foi mostrar aqueles artesãos, principalmente que fazem trabalhos manuais, que é possível crescer dentro desse setor. E na exposição está uma amostra do que é praticamente a nata do nosso Estado; são nossos melhores artesãos.

 Ensaio Geral: Observando todos os eventos que integraram a programação, desde os mais técnicos, como os workshops, até os mais práticos, como a feira de artesanato, qual você destacaria como a ação mais importante para a classe dos artesãos?

Arlene: Eu acho que não tem como separar. O artesão tem que ter a informação. Eles têm um pouco de resistência, mas tem que saber sobre aquilo que se está usando. Eu sempre digo pra eles que artesanato é igual a moda; as pessoas estão mudando suas decorações de casa todos os dias, então é preciso se informar sobre o que é tendência.

E a parte de mercado é muito importante também, porque pra eles é a parte que mais pesa. É dali que eles tiram seu sustento e sua renda, muitos vivem exclusivamente desse ofício. Tudo é um conjunto. Não se pode separar uma coisa da outra.

Ensaio Geral: Você comentou sobre a resistência de alguns artesãos em freqüentar workshops, palestras... É comum as pessoas terem a visão equivocada de que o artesão é um profissional independente que simplesmente produz suas peças porque tem talento ou pelo tempo de prática; não é comum imaginá-lo como um homem de negócios...

Arlene: Às vezes muitos não enxergam a capacidade produtiva que tem. Alguns artesãos são bastante dependentes dos governos, eles ainda têm essa coisa de que ‘o estado é obrigado’, ‘a prefeitura é obrigada’. A gente sempre bate nessa mesma tecla de que eles têm que caminhar com as próprias pernas, que eles têm que crescer e gerar sua própria renda e procurar ter o espírito do empreendedorismo. Mas como muitos deles ainda dependem de uma ajuda, a gente tá sempre acompanhando.

Ensaio Geral: Quais ações públicas de incentivo ao setor do artesanato no estado você destacaria como mais relevante e qual deveria ser implementada, mas ainda não foi por falta de iniciativa do governo ou pela difícil viabilização?

Arlene: Temos tentado de tudo um pouco em relação às políticas públicas. O artesão teria que pensar, por exemplo, em ter sua própria previdência; às vezes ele fica doente e se vê desamparado. A gente orienta que ele tem que recolher imposto, mas acho que eles só vêem na hora em que mais estão precisando.  Ainda é falha essa parte previdenciária do artesão mas às vezes não é culpa da gente, depende dele correr atrás. É difícil, mas aos poucos a gente vai plantando uma sementinha.

Ensaio Geral: E qual o destaque entre todas as ações que vem sendo feitas? Qual a mais bem-sucedida?

Arlene: A ação mais bem sucedida é a produção das Feiras de Artesanato . A Rodada que aconteceu na Semana do Artesão é muito importante pois põe o artesão em contato com o lojista. Nós sempre temos nos programado para participar das feiras nacionais, que é onde o artesão escoa sua produção. Mas acho que o artesão ainda tem muito que melhorar. Às vezes aparece uma feira e ele não tem produção pronta. Nós temos que falar “Olha, tem a feira tal, no dia tal...”, pra ele se programar. Nessa parte eles ainda deixam muito a desejar. Se você convida pra alguma coisa que dependa de organização, muitas vezes ele prefere não participar.

Ensaio Geral: Entre os trabalhos dos artistas selecionados para a Exposição da Semana do Artesão, qual representa melhor o artesanato de Mato Grosso do Sul?

Arlene: Eu sou suspeita pra falar porque gosto de todos, mas sempre tem aquele que é especial. Eu acho que as bugras são sempre uma boa opção para todos os momentos. A artesã (Indiana Marques), inclusive já ganhou o prêmio Top 100 do Sebrae. É realmente um trabalho muito bonito.

Da Redação

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