Mostra de Cinema Japonês no MIS começa com filme ganhador do Oscar em 2008
A abertura da Mostra de Cinema Japonês na noite desta terça-feira (20.6), no auditório do Museu da Imagem e do Som (MIS), trouxe uma grata surpresa: o filme “A Partida”, do diretor Yojiro Takita. Ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2008, o filme mostra, com uma delicadeza e sensibilidade preciosa, a temática da morte, da partida de entes queridos.
A história é sobre um violoncelista que perde o emprego numa orquestra e decide voltar para sua cidade natal com a esposa. Lá, ao procurar emprego, vê um anúncio no jornal e pensa se tratar de trabalho com turismo. Chegando, ele percebe o engano. O trabalho é de preparação de cadáveres para “a partida”, o ritual de cremação. “É um tema muito difícil, mas muito bonito o filme, que mostra o profissional que lida com a limpeza e o preparo do falecido. Lembrei-me da minha tia que faleceu em São Paulo e do processo crematório, terrível. Esse diretor me surpreendeu, pois ele não tem muitos filmes como esse. Fez filmes de ação, de samurais, e depois ele partiu para essa linha de dramas familiares e me impressionou muito”, diz o curador da Mostra, Celso Higa.
Antes de iniciar a exibição, a coordenadora do MIS, Marinete Pinheiro, desejou boas vindas a todos. O curador aproveitou para falar um pouco sobre a trajetória das Mostras de Cinema Japonês no Museu. “Faço agora um retrospecto dessas semanas de filmes japoneses aqui. Em 2008, quando o MIS ficava na rua Padre João Crippa, eram realizadas duas sessões para cada filme, porque o lugar só comportava 20 lugares, o lugar era muito pequeno. De 2009 a 2011 o museu foi fechado para que se pudesse montar essa estrutura onde estamos hoje. De 2012 até 2015, a curadoria foi de Jean Albernaz, e a partir de 2016, eu assumi a tarefa. Ano passado tivemos os clássicos como o cinema de Mizogushi, Ozu e Kurosawa, além do brasileiro “Corações Sujos”, de temática japonesa. Este ano, trazemos dois filmes contemporâneos e dois de época, homenageando o diretor Masaki Kobayashi, um diretor pouco conhecido mas com uma produção relevante. Espero que gostem”.
A presença da Miss Nikkey 2017, Sayuri Kobayashi, encantou a todos com sua beleza. “É uma honra poder representar a cultura nipo-brasileira”. Sayuri é cabeleireira, maquiadora, e morou dez anos no Japão. Gosta de karaokê, ama a culinária japonesa, principalmente o sushi. Sobre a Mostra de Cinema Japonês no MIS, ela diz ser uma boa iniciativa. “Acho bem bacana, cinema é cultura, e a cultura japonesa é muito rica, há muita coisa para conhecer. Estar divulgando isso é uma coisa bem bacana. Esta semana, no dia 18, comemoramos 109 anos da imigração japonesa no Brasil. Estão acontecendo diversas homenagens, e essa Mostra no MIS vem agregar valor às comemorações”.
Um dos visitantes da Mostra, o cinéfilo e membro do Instituto Histórico e Geográfico de MS, Samuel Medeiros, disse gostar de cinema e o que o atraiu ao primeiro dia da Mostra foi a temática do filme “A Partida”. “O cinema japonês é misterioso para nós ocidentais, os filmes são curiosos, o povo é diferente, o gestual é diferente, o que o torna atrativo, e o tema sobre a morte, o cidadão que trabalha com caixões de defunto, é um filme surreal que pouca gente usa, isso que me fez vir ao cinema hoje”.
Samuel também veio na Mostra do ano passado. “É boa a iniciativa do MIS e sempre bem-vinda, não só para a comunidade japonesa, mas para o público em geral. Hoje os filmes são muito comerciais, mas os de arte são atrativos, para quem gosta de cultura, são um pouco mais refinados”.
Presente na abertura da Mostra, o ex-presidente da Associação Okinawa e presidente do Conselho da Associação Nipo-Brasileira, Milton Shirado, falou que a importância da exibição dos filmes japoneses é “lembrar os tempos antigos, quando a gente vinha da chácara na Mata do Segredo”. “Aqui tinha várias colônias, os descendentes de japoneses eram hortifruti que vinham vender verdura no Mercadão. Então eles aproveitavam a oportunidade e, na sexta-feira à noite, assistiam aos filmes japoneses no Cine Santa Helena e acabavam dormindo no carro, no caminhão, para no dia seguinte, vender os produtos no Mercadão e só então voltavam para as colônias. Isso foi mais ou menos na década de 1970. A esposa de Milton, Vera Lúcia Kawahira Shirado, confirma: “meus pais tinham chácara no Segredo, a gente também ia bastante ao cinema”.
Para Milton, a Mostra é importante também para os não descendentes de japoneses, como forma de conhecimento de uma cultura diferente. “Todo povo tem que ter uma história pessoal daquela época, nossos avós, nossos tios. Naquela época não tinha atrativos, nosso atrativo era o cinema japonês”.
Celso Higa, o curador da Mostra, terminou a sessão de cinema expondo algumas curiosidades sobre o cinema japonês. “Quando acabou a segunda guerra, até 1952 funcionou no Japão o Departamento de Educação, de controle supremo, uma forma de censura, em que o cinema não poderia tratar do feudalismo. Os americanos achavam que isso foi a origem do fanatismo japonês. Esta censura começou a impor o que os americanos faziam em Hollywood. A primeira cena de beijo no cinema japonês foi uma imposição dos americanos, no filme “Jovens aos 18 anos” (Hatachi no seishun), do diretor Yashushi Sasaki. Foi colocada uma gaze nas bocas dos atores para não haver contato direto. Até nisso eles eram contidos”.
Higa terminou a noite fazendo um convite para o filme desta quarta-feira (21.6): “Para quem gosta de ação, o filme de amanhã trabalha com flash back, técnica adotada pelo rotirista Hashimoto, que também foi roteirista dos filmes Harakiri e Rashomon. Aproveitem os filmes e a Mostra”.
A Mostra de Cinema Japonês acontece até sexta-feira (23.6), com exibições sempre às 19h, no MIS que está localizado no terceiro andar do Memorial da Cultura e da Cidadania (rua Fernando Corrêa da Costa, 559 Centro). A entrada é franca.
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