Cinema | Com FCMS | 06/06/2019 07h14

Mostra de Cinema Japonês foi aberta nesta terça no MIS

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Com a exibição do filme “Harakiri” (Sepukku), de 1963, dirigido por Masaki Kobayashi, foi aberta na noite desta terça-feira (04.06), no Museu da Imagem e do Som, a Mostra de Cinema Japonês, em comemoração à imigração japonesa no Brasil. A Mostra vai até esta sexta, dia 7 de junho, com entrada franca, e tem curadoria do engenheiro, cinéfilo e pesquisador do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul (IHGMS), Celso Higa.

“Harakiri” se passa no século XVII, no Japão, e conta a história de samurai sem senhor (ronin), que pede permissão para cometer um suicídio (seppuku), com o ritual no átrio, pátio central da mansão do poderoso Clã Iyi. É o começo de uma história surpreendente narrada por meio de flashbacks. Considerado por muitos críticos de cinema como um dos maiores filmes japoneses, o longa recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes em 1963.

O curador explicou, ao fim da exibição, que o roteirista, Shinobu Hashimoto, escreveu o roteiro em apenas 11 dias, e o ator principal, Tatsuya Nakadai, se achava muito jovem para interpretar o ronin Hanshiro Tsugumo. “O ator tinha 30 anos na época das filmagens, e o outro ator cogitado era o famoso Toshiro Mifune, mas na época este último estava gravando um filme do Kurosawa”.

Para causar impacto por meio da trilha sonora, Tôru Takemitsu utilizou o instrumento Biwa, usado no Japão desde os anos 800 d.C. “Os sons da biwa foram usados para causar tensão. O diretor era muito perfeccionista e demorou vários dias para fazer as cenas do duelo”.

O filme causou impacto em Cannes por ocasião do seu lançamento. “As pessoas não estavam acostumadas com as cenas muito violentas. Muitas pessoas na plateia europeia gritavam e desmaiavam. O filme perdeu a ‘Palma de Ouro’ para o longa italiano ‘Leopardo’, de Luchino Visconti”.

Na plateia do MIS estava o estudante japonês Gilberto Shikitsi Júnior, de 19 anos, que veio para o Brasil com 8. Gilberto ficou sabendo da Mostra por meio da imprensa local, e decidiu prestigiar. “Eu curto mais animes, mas vim hoje para ter mais experiência com os filmes japoneses. Eu já vim aqui no museu outras vezes, aqui é bem estruturado”.

O estudante de Fisioterapia, Leonardo Rodrigues, segue o MIS nas redes sociais e assim fica sabendo dos eventos para participar. “Já vim algumas vezes aqui. Em Campo Grande, é um espaço alternativo que a gente tem, o que passa aqui é diferente do que passa nos cinemas comerciais. Estes filmes antigos é difícil achar para assistir. Hoje estava de folga do serviço, resolvi comparecer. Quero entrar na faculdade de audiovisual, por isso procuro participar dos eventos para entender mais sobre cinema”.

Lyuzo Takata, de 73 anos, é filho de japoneses e contou sobre a presença do cinema japonês em sua vida. “Desde que eu era jovem, na cidade de Pacaembu, o pessoal da colônia japonesa se reunia para assistir a filmes japoneses, que eram passados com um gerador trazido por um caminhão para a área rural. Já assisti muito filme japonês no Centro Cultural de São Paulo na década de 1970 e em outros cinemas no bairro da Liberdade. Tem filme que assisti quando era jovem e hoje assisti de novo, e esta experiência dá outra interpretação do que o cineasta quis transmitir”.

Takata falou também um pouco sobre a história de seus pais como imigrantes no interior de São Paulo, e de como a família vivia naquela época. “Éramos 12 filhos e o imigrante japonês que veio para o Brasil, a maioria, trabalhava na lavoura. Eu e minha família plantávamos algodão e amendoim. Os imigrantes tinha que trabalhar para manter a família. Depois, com 18 anos, fui para a capital de São Paulo para estudar. Cursei Engenharia Civil, Administração de Empresas e Direito. Hoje sou aposentado e sou administrador de cartório. Meus pais falavam japonês em casa, eu entendo um pouco”.

Mas para quem não compreende o idioma e quer curtir os filmes e prestigiar a Mostra de Cinema Japonês, todos os filmes exibidos no MIS possuem legenda em português. Hoje será exibido o filme “Explendor” (Hikari), de 2017, que aborda a temática da inclusão social para deficientes visuais. “O longa trabalha com pessoas que têm dificuldades na vida e fala de superação, principalmente com deficientes visuais. É um filme que fala de filme”, como uma metalinguagem, explica o curador, Celso Higa.

“A harpa da Birmânia” (Biruma no tategoto), de 1956, que será exibido na quinta-feira, dia 6, é todo em preto e branco, e conta uma história sobre soldados no fim da Segunda Guerra Mundial. Encerra a mostra o filme representante do Japão ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2018, “Amor que aquece” (Yu wo wakasu hodo no atsui ai), drama comovente de uma mulher com uma doença terminal que organiza suas pendências para um descanso em paz.

Serviço: O Museu da Imagem e do Som fica no 3º andar do Memorial da Cultura, na avenida Fernando Correa da Costa, 559. Telefone: (67) 3316-9178.

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