Cinema | Da redação | 26/07/2018 10h49

Cineasta Ivan Molina traz nova perspectiva ao 19º FIB

Compartilhe:

Descobrir os olhares das pessoas de Bonito. Esta é a perspectiva que a oficina de cinema ministrada pelo o cineasta indígena Ivan Molina veio trazer ao 19º Festival de Inverno de Bonito. Boliviano originário do povo Quechua, para ele fazer cinema não é somente conhecer técnicas, planos, enquadramento ou posicionamento de câmeras. “Cinema é uma metodologia para compreender a vida. Nele temos que ter a preocupação com o tema que vai ser transmitido, pois é preciso ter um posicionamento na vida e ao mesmo tempo buscar entender os outros olhares”, explicou.

Esta é a razão pela qual ele somente produzir documentários e não obras de ficção. Ele prefere trabalhar com temáticas sobre direitos humanos, direitos dos jovens e indígenas. “O intuito do meu trabalho é promover a paz por meio do audiovisual. Povos que não têm imagens públicas são considerados clandestinos. As pessoas falam muito em descolonização, mas fazem cinema com a perspectiva ocidental, pensando apenas em planos e movimentos de câmera. Todas as pessoas têm uma forma de olhar. Mesmo as imagens rupestres, dos homens antigos já transmitiam uma forma de montagem, pois eles pertenciam a povos orais e visuais. Aquelas imagens eram os primeiros storyboards”, refletiu.

Ivan Molina, quando saiu da escola pensava em estudar comunicação, mas na Bolívia na época não existiam universidades públicas de comunicação. Então ele teve a oportunidade de viajar para a Nicarágua, onde pegou pela primeira vez numa câmera. No país trabalhou como fotógrafo de revistas e pequenos jornais e passou a fazer documentários sobre Revolução Sandinista. A partir de então, não parou mais de fazer cinema.

Depois de participar de um festival de cinema em Cuba, ele e outros amigos cineastas decidiram fazer um projeto de imersão com jovens de escolas de cinema, brasileiros indígenas e não indígenas numa perspectiva de superar fronteiras de línguas, cores e cidades. Eles se hospedavam na casa dos próprios alunos participantes, para conhecerem suas realidades e realizar as produções audiovisuais. Desta iniciativa participaram jovens indígenas das etnias Terena, Guarani, Bororo, Guarani-Kaiowá e estudantes de diversas universidades. Esta experiência resultou na fundação da Associação Cultural de Realizadores Indígenas (ASCURI), que até já levou jovens indígenas da aldeia Panambizinho, de Dourados, para aprofundarem seus conhecimentos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. “Percebemos que outras pessoas não tinham que falar por nós. Hoje nossa associação não visa apenas produzir obras audiovisuais mas também encontrar respostas para os problemas enfrentados pela população indígena. As possibilidades de financiamento de projetos não devem apenas ficarem restritos aos jovens indígenas cineastas. Elas devem favorecer a todos”, defendeu Molina.

Podemos dizer que o cineasta Ivan Molina é um cineasta boliviano, indígena que produz sonhos. Sua forma de fazer cinema ele encontrou na convivência com os povos indígenas e com sua arte. Para os indígenas a arte, como explica Ivan, se encontra nos sonhos das mãos, do tato, da maneira de escutar, de sentir, da pele. “Os indígenas têm uma expressão muito aberta, eles não têm uma receita para fazer as coisas. Para aprendermos com eles temos que estar perto, conviver com eles. As pessoas hoje em dia conhecem as coisas, porém não têm a convivência. Temos que respeitar a diversidade do planeta para construir um planeta melhor. Negamos muitas coisas aos povos e se negamos a eles, negamos a nós mesmos, pois nós somos todos”, refletiu. Para ele, as novas tecnologias de comunicação facilitam que os povos compartilhem suas identidades. “Mesmo quando os jovens indígenas produzem um vídeo curtinho, no momento que eles têm que pesquisar sobre sua cultura e seu ambiente para contar sua história, ele acaba encontrando a força do seu povo. Eles podem até não continuarem fazendo cinema. O importante é o olhar que eles passam a ter de si mesmos e da vida. E nós, os adultos temos a responsabilidade de tirar a água para que estes jovens cresçam. O trabalho é nosso de mostrar outras formas de viver. Não temos que deixar uma terra melhor para os filhos, mas filhos melhores para terra. Nós pertencemos à nossa relação com nossos filhos”, finalizou.

A oficina de cinema com Ivan Molina começou no último dia 16 e termina no último dia do 19º Festival de Inverno de Bonito ( dia 29-07) com a exibição de 10 curta-metragens sobre Bonito que será no Espaço Madeiral, às 14h.

VEJA MAIS
Compartilhe:

PARCEIROS