Carnaval | O Estado MS | 01/02/2016 14h49

Escritora derruba imagem de vilão e maldição do padre contra Corumbá

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História, lenda e maldição se confundem no bloco Sandálias de Frei Mariano, que vai completar dez anos no desfile desta quarta-feira, 3 de fevereiro, no Carnaval de Corumbá– a 417 km da Capital. Um dos foliões que coordenam o bloco é a artista plástica, escritora e poeta Marlene Mourão, a Peninha. Uma das maiores contribuições de Peninha para o Carnaval é o livro “Um Altar Para as Valorosas Sandálias do Frei Mariano de Bagnaia”, que lançou em 2015, resultado de uma longa pesquisa que busca trocar os equívocos de uma lenda por uma visão história da vida do padre italiano. A pesquisa de Peninha é baseada, entre outras fontes, no livro “A História do Frei Mariano de Bagnaia”, do historiador e teólogo Alfredo Sganzerla, resultado de sua tese de doutorado em História de Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma.

Diz a lenda que depois de construir a Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária, padroeira de Corumbá, e se desentender com a comunidade, Frei Mariano teria atirado suas sandálias no rio Paraguai e rogado uma maldição sobre Corumbá. A cidade jamais voltaria a prosperar enquanto não encontrassem as sandálias. E a partir disso, o frei passou a ser visto como um vilão pela população.

Baseada em fontes históricas, porém, Peninha revela que Frei Mariano foi um incompreendido, mal-interpretado, desconhecido e grotescamente injuriado por mais de cem anos. A escritora relata que o padre interferiu e contribuiu na manutenção, construção ou reconstrução das igrejas de Nossa Senhora do Carmo, no distrito de Albuquerque –a 70 km de Corumbá–, São José de Coxim, Capela de Santo Antônio, em Campo Grande; além de ter mandado erguer a Igreja Matriz de Nossa Candelária. Ele era um missionário italiano que atuava na evangelização dos indígenas. Ela não encontrou indícios históricos de que o padre quisesse ver Corumbá em eterna decadência, como reza a lenda. “Frei Mariano foi um herói de guerra e amava Corumbá, tanto que pediu para viver aqui seus últimos dias e ser enterrado aos pés da Igreja Nossa Senhora da Candelária”, ressaltou a escritora.

Mariadadô é uma das famosas personagens da escritora

As obras de Peninha estão em jornais, revistas e galerias de artes. A história de “Mariadadô, o Livro”, lançado em 2013, começou em 1979, quando suas tiras começaram a ilustrar as páginas da extinta revista Grifo, e em 2007 foram relançadas pelo Diário Corumbaense. No livro, ela homenageia uma grande amiga e parceira, Helô Urt, ex-presidente da Fundação de Cultura, que morreu em 2011. Nas críticas e no temperamento forte, Mariadadô, uma mulher pantaneira, tem muita semelhança com Helô, segundo Peninha. O apelido surgiu quando ela era professora no Colégio Imaculada Conceição, em Corumbá, e era comparada pelas alunas ao personagem de Walt Disney, que se transfigurava como Morcego Vermelho. “Eu fotografava como o Peninha e tinha uma moto como o Morcego, até saí no Carnaval fantasiada de Morcego Vermelho”, lembrou. Sua fantasia preferida, porém, é a de Charles Chaplin, que usa há dez carnavais.

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