Artes | a4&holofote comunicação | 12/02/2021 09h58
Videobrasil apresenta mostra online da artista sul-coreana Ayoung Kim
A ideia de um mundo em que humanos substituíram a natureza como força ambiental dominante na Terra permeia o conceito de Antropoceno, termo proposto em 2015 pelo químico holandês Paul Crutzen. Esse pensamento é, também, um dos fios condutores da obra da artista sul-coreana Ayoung Kim, um dos nomes mais proeminentes da cena artística de seu país, que sintetiza em obras de formalização rigorosa sua pesquisa em torno da biopolítica e controle de fronteiras, a inteligência artificial, a origem ancestral e o futuro iminente. Um recorte recente e inédito do trabalho de Kim é exibido na mostra Oxbow Lake Time - Anthropocene: Korea x Brazil 2019-2021, em cartaz até 28 de fevereiro na plataforma Videobrasil Online (https://videobrasil.online/).
"De grande potência visual, sonora e cênica, os vídeos, performances e projetos teatrais de Ayoung Kim, artista com passagem marcante pela 56ª Bienal de Veneza e mostras individuais no Festival de Melbourne e no Palais de Tokyo, articulam elementos de tempos, espaços e sintaxes diversos, enxertando o ficcional na história e distorcendo a realidade para fazê-los colidir. Feitas para incitar formas pouco familiares de leitura, escuta e pensamento, atravessam mitos de origem e distopias futuristas, catástrofes reais e mitológicas, marés e minerais, nações e gêneros", afirma Solange Farkas, diretora da Associação Cultural Videobrasil e curadora da exposição.
O título da mostra, que em português significa Lago em ferradura, indica um trecho sinuoso de rio que, por causas naturais, se separa do curso principal e forma um corpo de água isolado. Esse acidente geográfico - e comum no Brasil - é usado pela artista como uma metáfora do estado atual que atravessamos. "Os lagos em ferradura são como uma parte seccionada de um corpo. Representam uma condição de restrição e de isolamento, mas, ao mesmo tempo, algo em potencial", explica Ayoung Kim em vídeo-depoimento para a plataforma. "Isso pode ser relacionado ao estranhamento existencial que vivemos na pandemia, um tempo descontínuo e isolado. Tanto na separação física quanto na cronologia da descontinuidade, o ‘tempo do lago em ferradura’ sugere o próprio mundo de hoje", completa.
O recorte curatorial evidencia a produção de Kim realizada entre 2010 e 2021. São obras em vídeo, de qualidade cinematográfica, nas quais a artista mescla ficção e realidade, como At the Surisol Underwater Lab (2020). O filme se passa em um futuro próximo, cerca de uma década após a pandemia global do Covid-19, e traz um mundo tomado pelo esgotamento de recursos naturais, onde os biocombustíveis verdes tornaram-se a principal fonte de energia das sociedades.
Com Porosity Valley 2: Tricksters Plot (2019), Ayoung Kim sugere um mundo e uma mitologia alternativas para as migrações de todo tipo do século 21. A artista sobrepõe migrações de refugiados e digitais, ambas características do mundo contemporâneo, e questiona as formas de existir e as formas de representar dos refugiados iemenitas que chegaram recentemente à Coreia do Sul. É uma reflexão acerca do estado de coisas no qual refugiados são tratados como uma espécie de disfunção ou vírus que ameaça o estado-nação.
Em 2019, Ayoung Kim foi à Mongólia pesquisar o amplo sistema de crenças animistas do país, que envolve a Terra, a mãe-pedra, rochas e cavernas sagradas que, segundo a crença, purificam as culpas humanas. É muito difundida entre o povo da Mongólia a convicção de que pedras e minerais, assim como outros elementos naturais, estão vivos. A artista explora esse tema e cria sua própria mitologia em Petrogenesis, Petra Genetrix (2019), obra em que reúne entrevistas com um historiador, um geólogo, o diretor de um museu de geologia e habitantes locais.
Oxbow Lake Time é a segunda exposição do projeto Anthropocene: Korea x Brazil 2019 - 2021, fruto da cooperação entre a Associação Cultural Videobrasil e o Ilmin Museum of Art, com apoio do Arts Council Korea (Arko Fund). A parceria celebra seis décadas de relações diplomáticas entre Brasil e Coreia do Sul e acontece em consonância com o enfoque dado há mais de 30 anos pela Associação Cultural Videobrasil à produção artística do chamado Sul Global - termo referente a países ou grupos marginalizados no quadro geopolítico global.
A estreia do projeto se deu em 2019 com a mostra Dear Amazone, the Anthropocene: Brazil x Korea, organizada no Ilmin por Juhyun Cho, curadora-chefe do museu, com colaboração de Solange Farkas, e obras de artistas brasileiros como Jonathas de Andrade, Cinthia Marcelle, Mabe Bethonico, Lucas Bambozzi, João GG, Thiago Martins de Mello e Alexandre Brandão. A segunda exposição, com trabalhos de artistas coreanos, estava prevista para ser realizada em 2020 presencialmente no Brasil, mas teve de ser adaptada para o online em função da pandemia de Covid-19.
A individual de Ayoung Kim é a quarta exibida no Videobrasil Online. Inaugurada em setembro do ano passado, a plataforma já apresentou o documentário Abdoulaye Konaté - Cores e Composições, filme dirigido por Juliano Salgado que trata da trajetória artística de Abdoulaye Konaté, um dos mais destacados criadores da África Subsaariana; a mostra Sacudimentos, do artista Ayrson Heráclito; e a exposição coletiva Anthropocene: Korea x Brazil 2019-2021, realizada em parceria com a ARKO Fund (Arts Council Korea), com seleção de obras organizada por Juhyn Cho e seis dos principais nomes da cena artística sul-coreana: Hayoun Kwon, Sanghee Song, Eunji Cho, Jeamin Cha, Minjung Song e Ji Hye Yeom.
Serviço:
Oxbow Lake Time - Anthropocene: Korea x Brazil 2019-2021, individual da artista sul-coreana Ayoung Kim
Local: Videobrasil online (https://videobrasil.online/)
Local: Videobrasil online (https://videobrasil.online/)
Curadoria: Solange Farkas
Período expositivo: Até 28 de fevereiro
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