Artes | Da redação | 09/08/2016 14h11

Jonir Figueiredo ensina a colorir recicláveis e criar conceitos na arte-educação

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Voz de barítono, gestos de maestro. Também doce e categórico, como os professores que o cercam. Mas os mestres nesta aula são os alunos. E o professor, para privilégio de todos, é o primeiro arte-educador de Mato Grosso do Sul: Jonir Figueiredo.

“Quero que vocês explorem as possibilidades das pequenas coisas, das coisas que aparentemente não possuem valor. Apliquem cores, formas, suas idéias. Imaginem-se nas escolas das periferias, onde o pouco é muito. E disso, criem novas possibilidades para oferecer a estes alunos, para ampliar seus conceitos de arte e de mundo”, incentiva Jonir.

A aula foi minstrada na tarde de domingo (7), para 25 professores e graduandos em cursos de licenciatura. As ‘coisas’ são pratos de barro, pedras portuguesas, calotas de carro, palitos de sorvete, que se transformam em objetos renovados, arte pura. E Jonir explica o passo a passo, abrupto a princípio, mas sorridente no resultado.

As atividades fazem parte do projeto “Arte com Reciclagem”, uma das muitas opções do I Seminário Cultura e Educação, realizado pela Secretaria de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação e Secretaria de Estado de Cultura entre os dias 5 e 7 de agosto.

O Seminário refletiu temas pertinentes na relação cultura e educação, provocou novos olhares sobre conceitos e práticas de interação, contemplou os hibridismos e cruzamentos poéticos. O encontro também oportunizou um espaço de partilha de saberes e fazeres educativos e artísticos, promovendo reflexões e práticas sobre a relação entre a cultura e educação.

A oficina de Jonir apresentou aos professores novas possibilidades, que vão além da pintura em tela. “O interessante é o educador orientar aos alunos que, hoje no mundo, se estabelece o conceito de reciclagem em tudo que realizamos”.

“Eu quero terminar correndo este prato aqui pra seguir pintando as outras peças. Esta é uma oficina super prática, com muito espaço para arte, para a produção. Estou curtindo”, conta a graduanda em Arte e Educação, Lorena de Lima.

Quantos aos recursos que podem ser utilizados pelos arte educadores, Jonir defende que o arte educador têm que despertar o olhar do aluno para o que existe a seu redor. “As famílias dos alunos de escolas públicas, por exemplo, mal têm dinheiro para comprar o feijão do dia. Assim sendo, no quarto, no quintal, na rua ou na praça, é possível encontrar matérias-primas para a arte. Sobras de madeira, papelão, plásticos, geladeiras, computadores, vasos de cerâmica… Tudo isso pode ser transformado”, acredita.

O artista

Jonir Figueiredo é um dos personagens pioneiros na área da arte educação em Mato Grosso do Sul. Sua experiência começou em escolas públicas de Campo Grande, a convite da ex-senadora Marisa Serrano, que trouxe para Campo Grande o Programa de Desenvolvimento na Arte Educação, entre os anos de 1979 a 1982. Eram anos pós-ditadura no Brasil, e sua maneira de ensinar arte era considerada inusitada pelos professores da época.

Em suas capacitações, Jonir proíbe a utilização de réguas e borrachas. “É para não desperdiçar o traço do aprendiz”. Para ele, as aulas de arte têm que ser diferenciadas. Devem ser feitas em poliesportivos, em pátios de escolas, ao ar livre. Nestes cenários, para ele, a intuição flui e jorra espontaneidade.

“É importante levar os artistas para dentro da sala de aula para mostrar como se é possível fazer arte de uma forma prática. Eu não gosto de aluno comportado na carteira. Especialmente, adoro trabalhar com crianças, pois elas já possuem uma imaginação fértil. Você só dá o início do trabalho e elas têm a capacidade de continuá-lo sozinhas. Elas são uma ilha de criatividade”.

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