Antiguidades | Da redação/com Campo Grande News | 05/09/2014 09h10

MB Vídeo Locadora busca bom destino para filmes

Compartilhe:

Campo Grande (MS) - Nunca nenhum concorrente bateu a qualidade do acervo da MB Vídeo Locadora em Campo Grande. Foram 31 anos de história construídos no prédio em frente ao supermercado Extra, na rua Maracajú, que hoje abriga um conjunto comercial. Em março de 2012, a loja fechou, e agora os proprietários tentam dar um bom destino a milhares de filmes.

Ao todo, o sistema da loja chegou a registrar 80 mil cadastros de clientes. No esquema rotativo, eram em média 3 mil clientes por mês. “Depois que começou a pirataria e a internet, tudo foi acabando", lamenta Maria Aparecida Moraes Bredes, ou Dona Cida, como ficou conhecida a proprietária da MB. "Mas antes, aos sábados era uma correria só, a loja ficava com mais de 20 funcionários e passavam mais de 500 boletos em um dia”, lembra.

O acervo com mais de 5 mil títulos tem cópias em DVD de raridades, como o europeu de 1970 “Os Girassóis da Rússia”, com Sophia Loren e Marcello Mastroianni. Na lista, hoje encaixotada, também estão o clássico de 1955 “Suplício de uma saudade” e a coleção inteira de Charlie Chaplin.

Atualmente, eles são cuidadosamente conservados em caixas de isopor e foram colocados à venda por um valor aproximado de R$ 130 mil. “Para mim só interessa vender o acervo inteiro, já ofereci para a prefeitura daqui e de outras cidades e estou aguardando resposta”, explica a dona. O sonho é que todos acabem sob a guarda do Estado, como no MIS (Museu da Imagem e do Som), para ainda serem vistos e para que a MB continue como referência.

Antes, a locadora era o endereço certo para cinéfilos, professores, universitários... Quando um filme deveria virar resenha ou trabalho, se a obra não fosse encontrada na MB, seria quase impossível achar em outra locadora da cidade. O mesmo ocorria com produções sul-mato-grossenses, só prestigiados ali.

O acervo construído ao longo dos anos foi pensado para agradar bem a esse público, então era possível encontrar também filmes didáticos. Vez por outra, se uma algum conhecido da área da Eucação pede um filme, Dona Cida acaba emprestando. “Tem amigo que não tem como a gente dizer não, por isso já separei os didáticos em uma caixa e de vez enquanto empresto”.

Também estão guardadas algumas fitas VHS restantes, mas são poucos filmes que não foram convertidos para DVD. Dona Cida não se recorda exatamente qual foi o primeiro filme da loja, mas lembra que era um com o Al Pacino. “Ele era o galã da época junto com a cruzada de pernas da Sharon Stone”, recorda com bom humor.

Apesar da loja manter os filmes comerciais, o forte mesmo era o aluguel de clássicos e produções bem menos hollywoodianas. “Os meus clientes eram seletos, eles gostavam mais de filmes antigos, franceses ou asiáticos. Filmes que só se encontrava por aqui”.

Com muita saudade, ela conta que 6 anos antes da locadora fechar, todos já previam o fim e a despedida foi acontecendo aos poucos e casou com outros acontecimentos. Próximo ao fechamento da locadora ela descobriu um carcinoma no plumão. “Meu marido brinca e diz que a doença que obrigou a me afastar da locadora casou com o fechamento dela, porque senão, seria um sofrimento só ter que abandoná-la”, comenta.

Ela se mudou para um chácara em busca de ar puro e encontrou lá o sossego que precisava para se cuidar, superar a doença e decidir o novo jeito de levar a vida. A cada momento da conversa, o amor cultivado pela locadora e a paixão pelo filmes estava estampado no seu olhar, de nostalgia, mas também felicidade por tudo que conseguiu construir nos 31 anos de MB.

“Naquela época, a gente fazia amizade com os clientes, quando eles chegavam na loja já sabíamos de longe quem eram: Lá vem o cliente dos pornôs. Aquele ali prefere os clássicos e o outro sempre leva algo de cinema Italiano”, detalha.

Ela lembra com saudade das promoções que a loja fazia para manter a relação de proximidade com o cliente. "Nós fazíamos festa no dia das crianças com algodão doce e pipoca, em junho tinhamos quentão o dia inteiro. Lembro que eu comprei uma máquina de sorvete italiano e a gente servia para a meninada que vinha aqui no sábado”.

Mas no ano de 2003 ela começou a reparar a transformação. “Não sei o que aconteceu, mas o tipo de cliente mudou. Eram pessoas que não gostavam de conversar, chegavam e mal cumprimentavam a gente. Começamos a ter problemas, tivemos que por alarmes em filmes”, lamenta, pela relação ter esfriado com a clientela.

Sempre exigente com os funcionários da loja, todos tinham que entender bem e gostar de filmes. Eles precisavam saber passar as informações para os clientes e para trabalhar por lá, era até preciso passar por uma provinha comprovando os conhecimentos.

Hoje, as salas que faziam parte da MB Vídeo estão alugadas para manter a renda da família, que se mudou para a chácara de vez e por lá produz um pouco de leite para venda. “Já trabalhei muito, agora quero mais é viajar e aproveitar”, declara.

VEJA MAIS
Compartilhe:

PARCEIROS